Uma amostra coletada por fiscais da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural apontou a presença do princípio ativo do herbicida 2,4-D em área urbana de Santana do Livramento. A coleta foi feita em um cinamomo da Praça Oriovaldo Grecelle, localizada em frente à Santa Casa de Misericórdia, no Centro, depois de árvores do local terem apresentado sintomas semelhantes aos que atingiram parreiras e outros pomares em várias cidades gaúchas.
A informação constará no relatório que será entregue pela secretaria ao Ministério Público Estadual (MP) na próxima segunda-feira. Este estudo foi solicitado pelo órgão em novembro depois de entidades terem relatado a preocupação dos produtores de uva e outras frutas com prejuízos decorrentes da redução de produção e até da morte de plantas, possivelmente provocados pela deriva do 2,4-D.
Segundo a chefe da Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal da Secretaria da Agricultura, Fabíola Boscaini Lopes, a presença do 2,4-D na área urbana de Livramento também foi notificada à Secretaria Estadual da Saúde.
Em nota, a pasta da Saúde informou que, desde 2014, conta com um Grupo de Trabalho sobre Agrotóxicos, que capacita serviços de saúde para sensibilização da rede quanto a notificações de intoxicações por agrotóxico. “O melhor monitoramento dos impactos desses produtos na saúde é importante para nortear as ações a serem desenvolvidas por órgãos da saúde e agricultura. A notificação permite a investigação do caso, o tratamento correto e possibilita a criação de políticas públicas adequadas”, diz o texto.
O relatório que será entregue ao Ministério Público conterá os resultados laboratoriais de 80 amostras coletadas em 56 propriedades de 23 município. Até esta sexta-feira, dos 67 laudos que a Agricultura havia examinado, apenas 3 não apontaram a presença de resíduos do herbicida – uma na zona rural de Monte Alegre dos Campos e duas em zonas urbanas de Bagé e Dom Pedrito.
Estudo do laudo
O superintendente do Senar/RS, Eduardo Condorelli, diz que é necessário estudar melhor o resultado do laudo de Livramento, porque a cidade fica na fronteira com o Uruguai e pode receber influência do agrotóxico aplicado no país vizinho. “No Uruguai, é usada a fórmula éster do 2,4-D, que é mais volátil do que a vendida no Brasil”, compara.
Condorelli lembra ainda que o problema não é o produto, mas a má aplicação dele. Por isso, destaca que o programa Deriva Zero, lançado em 2018 pelo Senar, será ampliado para capacitar mais produtores na tentativa de reduzir os índices de deriva. Na segunda quinzena de janeiro, o Senar e Farsul se reunirão com produtores de uvas para debater propostas neste sentido.
Em Santana do Livramento, a área cultivada com soja quadruplicou em dez anos. Passou de 12 mil hectares em 2008 para 45 mil em 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.