Quase um mês após a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) na disputa presidencial, o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu (PT), analisou o resultado das eleições em entrevista à Rádio Guaíba, nesta quarta-feira. Além de justificar as estratégias adotadas pelo PT e apontar os vencedores e perdedores do pleito, Dirceu também informou que não visitou e nem pretende visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
De acordo com o ex-ministro, um encontro com Lula na PF pode soar como uma provocação, com ônus desnecessário. “Eu não preciso visitar o Lula para ele saber do meu empenho e lealdade. Isso não vai servir nem ao Lula, nem a mim e nem ao Brasil. O Lula está preso e todo mundo sabe da minha solidariedade e apoio a ele. Eu tenho que lutar aqui pela anulação do processo e pela liberdade dele. Eu e o Lula funcionamos por telepatia. Eu tenho os dirigentes do PT, advogados e família dele para me manter informado sobre a situação dele”, revelou Dirceu, durante entrevista exclusiva ao programa Esfera Pública.
Dirceu já recebeu duas condenações no âmbito da Lava Jato e responde em liberdade, desde o fim de junho, após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Em setembro, ele teve a segunda pena reduzida, de 11 anos e 3 meses para 8 anos e 10 meses, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre. No processo, o ex-ministro responde por irregularidades em contratos para fornecimento de tubos para a Petrobras.
O ex-líder petista considera também que mesmo com a derrota de Fernando Haddad, o Partido dos Trabalhadores continua fortalecido no cenário político, ao contrário de antigos opositores. “Acredito que quem saiu derrotado, com o espaço ocupado pelo PSL e Bolsonaro, foi o DEM, o PMDB e o PSDB. O PT continua sendo o partido mais votado, ao lado do PSL, para a Câmara dos Deputados, assim como nas Assembleias Legislativas. O PT manteve três de seus governos e conquistou mais um. O partido ainda teve uma votação expressiva no primeiro turno, com mais de 30 milhões de votos”, prosseguiu.
Para Dirceu, o PT ganhou legitimidade para atuar na oposição após ter computado resultado expressivo em segundo turno. Além disso, ele disse considerar que a legenda agiu corretamente ao manter a candidatura de Haddad em vez de ter abrigado Ciro Gomes (PDT). “O Lula tinha 45 milhões de votos, tinha uma votação que o elegeria. Não faria sentido o PT retirar a candidatura. E na questão de ser derrotado por Bolsonaro, no segundo turno, ninguém pode dizer que outro candidato venceria. Além disso, dentro desta derrota eleitoral, nós preservamos a nossa força política, nossa base social e nosso eleitorado. Fora o detalhe de que, se o Lula fosse candidato, a história seria outra”, finalizou.