O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, disse hoje considerar que a democracia possa ser novamente colocada em xeque, mas não pela alternância ou manutenção de ideologias políticas no poder, e sim em função do mau uso da internet na era digital. Ele participou, nesta segunda-feira, de uma conferência sobre os 30 anos da Constituição Federal, realizada no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre.
“De certa forma, o avanço tecnológico e algumas ferramentas, colocadas à disposição das pessoas, ameaçam em alguma medida a democracia. A internet, por exemplo, que nós todos imaginávamos que fosse viabilizar, quem sabe até mesmo uma democracia direta, no modelo que idealizadamente os gregos teriam feito, ela, hoje, se tornou parte do problema, e não da solução”, afirmou.
Barroso enfatizou que o sistema democrático venceu todas as barreiras do último século e vai se sobrepor a políticas praticadas, nos dias de hoje, em países como Hungria, Polônia, Turquia, Venezuela e até nos Estados Unidos, onde eleições foram realizadas, mas sem uma participação efetiva e aberta da sociedade.
“A democracia liberal já esteve em xeque em outros momentos da história. Nos impérios, antes da Primeira Guerra. Depois no comunismo, fascismo, nazismo e nos regimes militares mundo afora. Mas a verdade é que a democracia foi a ideologia vitoriosa do século XX. Ela derrotou todas as alternativas e acho que essas propostas iliberais, que se apresentam agora, também serão derrotadas”, emenda.
Na tarde de hoje, o ministro analisou as realizações e frustrações dos 30 anos da Constituição, incluindo questões como a corrupção estrutural e sistêmica. O painel era intitulado: Conferência Trinta Anos da Constituição: a República que ainda não foi.
Por quase duas horas, Barroso dividiu a palestra em passado, presente e futuro. Segundo ele, avanços foram conquistados desde 1988, como a vitória sobre a ditadura militar, ascensão de direitos para mulheres, negros e índios, assim como o funcionamento das instituições após dois processos de impeachment consumados. Olhando para o horizonte, Barroso defendeu mudanças e investimentos nos planos econômico, político e social. “Sou contra a convocação de uma Assembleia Constituinte. Não se consegue elaborar algo melhor porque a demanda de uma Constituinte deve vir de baixo para cima”, pontuou.