Sobre a sabedoria dos livros, Mario Quintana escreveu: “Não penses compreender a vida nos autores / Nenhum disto é capaz./ Mas, à medida que vivendo fores,/ Melhor os compreenderás.” É a partir dos livros que conhecemos sobre mundo possíveis, aprendemos e entendemos um pouco da natureza humana. No seu 18° dia, o público se despede neste domingo da festa que tem o livro e os leitores no centro das atenções.
Tradição no encerramento da Feira do Livro de Porto Alegre, o cortejo com distribuição de flores aos livreiros ocorre às 20h, e tem ponto de partida localizado na Avenida Sepúlveda, atrás do estande da 99, próximo à esquina com a Avenida Siqueira Campos. Diretoria da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), comissão organizadora da 64ª Feira do Livro de Porto Alegre, patronos, escritores e público em geral percorrem as bancas de livros cantando a marchinha de carnaval “Está Chegando a Hora” e despedindo-se da Praça da Alfândega, que recebeu o evento por 18 dias. O cortejo será encerrado na Praça de Autógrafos, onde ocorrerá uma apresentação musical.
O presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), Isatir Bottin Filho, afirma estar “extremamente satisfeito” com esta edição, a primeira com ele à frente. “Apesar da crise financeira, os números nos deixam muito estimulados para preparar a próxima edição”, assegura. As primeiras estimativas apontam crescimento de 9% em relação às vendas do ano passado. Os números finais serão divulgados nesta segunda-feira.
Ele destaca um personagem que se fez presente em quase todo o período da feira, o sol. “Choveu apenas dois dias”, comemora. A acessibilidade foi uma aposta da edição, com serviços como empréstimo de cadeiras de rodas, intérprete de libras, visitas guiadas para pessoas com deficiência visual e mapeamento de vagas de estacionamento. “Buscamos qualificar e acolher melhor o público visitante”, disse.
O estande da Belas Letras, vencedor na área geral do 1° Prêmio Jacarandá, concedido pelo Correio do Povo e CRL, conta com acesso para cadeirantes. Responsável pela banca, Alessandra Iob afirma que a ideia segue os objetivos da editora, de ser acessível aos clientes de forma a “criar vínculo” com eles. A editora comemorou dez anos nesta edição e tem a Feira como um dos principais eventos.
Um dos objetivos desta edição foi estar em consonância com temas atuais, como o feminismo, de forma a fomentar discussões a partir das leituras. A Dublinense, participando pela terceira vez da Feira do Livro, foi uma das editoras a apresentar um catálogo que dialoga com discussões contemporâneas.
“E teve maior engajamento do público”, acredita o editor da Dublinense, Rodrigo Rosp. A fala ganha eco na estimativa de crescimento: 50% em relação às vendas no ano passado. A editora conta com uma linha de literatura portuguesa e aposta também em autoras africanas e em novos escritores.
Pode parecer que tudo se repete a cada ano, a montagem das bancas, a venda dos livros, as sessões de autógrafos, mas não. “A rotina é a mesma, mas a cada edição é diferente”, afirma Nóia Kern, responsável pelo Balcão de Informações da Feira.
Ela conta que o balcão “ajuda os leitores a encontrar livros, mas a feira não tem tudo”, admite. A cada ano são novas demandas, muitas vezes, de velhos conhecidos. Neste ano uma senhora chegou ao balcão e perguntou: “Onde estão os mancebos?” O que seriam os mancebos, perguntou Nóia à senhora, que respondeu: “Os que vendem livros usados”.
O balcão “é o lugar mais difícil de trabalhar”. Talvez seja a razão pela qual ela levou o prêmio destaque especial do prêmio Jacarandá. “Eu amo fazer o que eu faço porque eu gosto de livro e gosto de ajudar as pessoas a encontrar esse objeto maravilhoso”, declara.
A despedida temporária é sentida não apenas naqueles que trabalham, mas também pelos leitores. O casal Bruna e Marcos aproveitou o feriadão para procurar obras, “especialmente de psicologia”, destaca Bruna, por ser a sua área de atuação. Já Alana disse que visita a Praça da Alfândega todos os anos em novembro e o que ela gosta é descobrir obras enquanto passa pelas bancas.