PF vai apurar interferências na investigação do caso Marielle Franco

Ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, anunciou hoje a medida 

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A Polícia Federal vai apurar interferências na investigação do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSol) e do motorista Anderson Gomes, ocorrido em março. O Ministério Público e a polícia civil estaduais seguem na apuração do homicídio em si que, depois de quase oito meses, ainda não teve nenhum responsável identificado.

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, anunciou a atuação da PF em entrevista coletiva hoje, em Brasília. Segundo ele, o Ministério Público Federal obteve dois depoimentos com denúncias de que uma organização criminosa pode ter atuado para desviar as investigações e dificultar a identificação dos autores e mandantes do assassinato. A PF entra no caso, depois de um pedido da Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge.

De acordo com as informações obtidas, que o ministro classificou como “gravíssima denúncia”, a organização criminosa envolve a atuação de criminosos, contraventores, milícias e agentes públicos de diversos órgãos, inclusive relacionados ao caso. Perguntado se as testemunhas apresentaram provas, Jungmann disse que os indícios de práticas de corrupção, ocultamento e compra de agentes públicos para impedir a descoberta dos mandantes do crime foram relevantes.

O ministro, contudo, não quis revelar mais detalhes quanto a quais agentes e de que órgãos pertencem a esse grupo. Jungmann também não informou o que aconteceu com os denunciantes, apenas comentou que um dos depoimentos ocorreu no Rio de Janeiro e outro fora, no último mês.

Investigações paralelas
Segundo o titular da Segurança Pública, o inquérito da Polícia Federal vai correr em paralelo às investigações conduzidas pelo Ministério Público e pela Polícia Civil do Rio de Janeiro e não configura federalização do caso.

Contudo, Jungmann afirmou que as duas investigações podem cooperar e trocar informações. “Se o caso Marielle ajudar a desvendar quem está obstruindo e se, inversamente, a busca da investigação de quem está promovendo isso, segundo a testemunha, ajudar o caso Marielle, ótimo. Embora as responsabilidades sejam distintas, sem sombra de dúvida a cooperação deve ajudar mutuamente a elucidação tanto de um caso quanto de outro”.

Histórico
A vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes foram mortos no dia 14 de março deste ano. Ela levou quatro tiros e Anderson, três. Eles saíam de um evento político e foram assassinados dentro do carro no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro.

O Ministério Público do Rio de Janeiro e a Polícia Civil do estado assumiram o caso. Diversas campanhas foram feitas cobrando a elucidação do crime. Organizações como a Anistia Internacional lançaram petições e documentos cobrando celeridade das autoridades.

Em julho, dois suspeitos foram presos pela Delegacia de Homicídios da Polícia Civil do Rio: Alan Moraes Nogueira, policial militar reformado, e Luiz Cláudio Ferreira Barbosa, que era bombeiro. Segundo as investigações, eles compunham o grupo do miliciano Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando de Curicica, que está preso no Rio Grande do Norte por outro delito.