Uma série de profissionais ligados à psicologia vem alertando que o clima de instabilidade e polarização política no Brasil vem afetando as relações mais íntimas dos eleitores. O professor Nauro Mittmann, membro do Conselho Regional de Psicologia do RS, foi o convidado desta manhã do programa Direto ao Ponto, da Rádio Guaíba, e versou sobre essa e outras questões. Conforme o docente, o ambiente típico das redes sociais, que não permite o olho no olho, faz com que as pessoas se permitam ao desentendimento de forma mais rápida do que no mundo real.
Ouça abaixo a entrevista na íntegra:
Para Mittmann, os grupos em que há reunião de diferentes integrantes de um mesmo núcleo familiar proporcionam o ambiente para esse tipo de animosidade. “Um núcleo familiar significa uma série de elementos diferentes entre si, singulares, e que terão opiniões diferentes sobre uma série de fatores”, ponderou. Como alternativa ao fim dos almoços de domingo por conta de brigas ideológicas, o professor sugere o diálogo: “não tentar impor a nossa visão, mas discutir sobre os pontos de forma clara e presencial. Se deve evitar a discussão nos grupos, por exemplo”.
Além disso, ponderou que relações já afetadas por problemas anteriores são as primeiras a sofrerem com divergências políticas. “As relações mais afetadas são aquelas que, anteriormente, já vinham sendo desgastadas por outros fatores”, ao mesmo passo que também “tendem a ser mais duradouros os desentendimentos com pessoas mais distantes do que com aquelas do mesmo núcleo consanguíneo”, acrescentou. Em outras palavras, é mais fácil voltar às boas relações com a família do que com colegas de trabalho, por exemplo.
O professor acredita que, de fato, a era da informação instantânea proporcionou uma ampliação do universo das discussões políticas no país, ao passo de que em outros pleitos a presença da internet – e principalmente do WhatsApp – ainda não era tão frequente em todos os smartphones brasileiros. “Nós já tínhamos relatos de brigas entre famílias desde a revolução de 30, de antes provavelmente, então não é um fenômeno que nasce agora, ele apenas se intensifica”, explicou o docente. Novamente, Nauro ressalta que a melhor forma de buscar um entendimento para as questões é “sair do ambiente da internet” e trazer o debate para a realidade.
“O conflito faz parte das relações humanas”, segue o professor, ainda ponderando que relações perversas ocorrem em todos os lados, inclusive nas famílias. A partir disso, é preciso pesar se, de fato, uma determinada consanguinidade basta para manter uma relação que, por diversos motivos, acaba sendo nociva para um ou mais envolvidos. “As pessoas estão se apropriando da imagem desse ou daquele candidato, e isso está trazendo à tona conflitos internalizados e que agora encontraram campo para aflorar”, garantiu.