De volta de um outro País…

"Este jornal vai ser feito para toda a massa, não para determinados indivíduos de uma facção". Foto: Arquivo CP

Lá no Itapuã, que eu considero um outro país, cada dia é diferente, porque no teatro ao ar livre da natureza, milhares de pássaros das mais diversas espécies cantam para mim. Que privilégio!

Os bugios avisam quando vai chover num ronquido só. A cachorrada faz festa toda vez que  saio e volto, como se eu tivesse passado um ano fora. Os gatos conversam comigo na linguagem que só quem tem entende.

As lebres vêm comer bem na frente da casa à noitinha. Os lagartos disputam maçãs e verduras que deixo estrategicamente para eles nos fundos da casa. As perdizes fazem ninho bem na frente do portão de entrada e se camuflam pra que ninguém as veja, e atacam se chegares perto. É a mãe defendendo os filhotes. Deus o livre se enxergar uma arapuca. Desmancho na hora!

Desde guria sou assim. Em vez de brincar com bonecas, eu fazia dos filhotes de cães os meus bebês, botava fralda, ninava, dava mamadeira. À noite, lá na “Arvorezinha”, em Bagé, nos juntávamos ao redor do fogo para debulhar milho, depois dormir num catre à luz de lampião e no amanhecer tomar um bom café com carne de ovelha e sair para camperear. Depois, de tardezita, buscar água no açude com o petiço pipeiro. Lembro até hoje do barulho do cavalito sorvendo aquela límpida água entre os aguapés.

Uma vez saí pro campo e voltei com muitos passarinhos ainda filhotinhos que tirei dos ninhos. Achei que seria melhor trazê-los para dentro do galpão. Apanhei de palmatória!
Mas o que eu adorava era passear pelo povo na charrete (aranha) puxada pela égua tordilha do meu pai. Eu também tive um zaino que me levava nas brincadeiras de “bandido e mocinho” por entre as sina-sinas e maricás, municiada dos meus revólveres d´água.

Tenho marcas até hoje nos joelhos de esfolar nos tombos, nas escaladas de árvores pra fazer “casinha de Tarzan”, nas queimaduras dos maranduvás , nas picadas de abelhas ou camoatins, quando resolvíamos atazanar os bichinhos batendo nas cachopas com um pedaço de pau. Coisa de guri(a)!

Quando decidi cambiar a vida na cidade grande, foi a melhor coisa que fiz para meu bem estar. E foi assim que passei minhas férias. No meu reduto, no espaço que escolhi junto a uma área de preservação justamente para me preservar dos desassossegos do dia a dia.
Muita gente acha longe o meu lugar. Pra mim o longe é perto. E muitas vezes, nos amanheceres e entardeceres da minha querência, me vou através do pensamento aos tempos da minha meninice.

Quem tem raízes plantadas na terra não se afasta jamais do seu chão e com uma vantagem, eu encosto o céu com a mão tocando as estrelas e me sinto dona desse mundão de Deus.