O candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, atribuiu, nesta terça-feira, a ida dele ao segundo turno das eleições graças ao apoio político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista exclusiva ao programa Esfera Pública, da Rádio Guaíba, Haddad rechaçou a tese de algumas lideranças petistas, que defendem o distanciamento do candidato com Lula, preso em Curitiba. Conforme o ex-prefeito de São Paulo, o capital político de Lula pode ainda contribuir para o mundo.
“Eu só cheguei ao segundo turno em função do projeto que Lula representa. Eu jamais vou negar a minha amizade por ele e jamais vou negar que ele foi condenado sem provas. Eu considero o Lula o melhor presidente que o país já teve. Nessa condição, ele pode contribuir muito para o País como contribuiu para o mundo. Eu viajei por 30 países e todo mundo queria um governante como ele para combater a fome, para ajudar a distribuir renda, moradia e educação”.
Agora, Haddad espera que o eleitorado faça uma comparação dos projetos no segundo turno da eleição. O petista criticou o discurso de Jair Bolsonaro (PSL) e disse que, neste momento, exerce a missão de defender o Brasil da ameaça que representa uma vitória do candidato do PSL.
Apesar de ter ficado atrás na disputa do primeiro turno, Haddad considera a votação exitosa em razão do tempo de campanha reduzido que teve por conta da indefinição sobre a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O candidato disse que ainda precisa se apresentar a uma parte do eleitorado brasileiro.
“É importante falar em rádio, em televisão. Nós temos que nos comunicar com milhões. Vou fazer algumas viagens, não tanto como no primeiro turno. Eu tinha que viajar pelo País para conversar com as pessoas, para apresentar o meu plano de governo. Agora está apresentado o plano de governo e tenho de me apresentar. Muitas pessoas ainda não me conhecem. Alguns candidatos estão há décadas. O Ciro foi candidato em 2002, o Alckmin em 2010, a Marina em 2014. Eu era ministro de Educação, não era candidato a nada”, disse Haddad, que afirmou que espera que o eleitor faça a comparação de projetos no segundo turno.
“Cortar direitos não vai retomar a economia. A reforma trabalhista foi um erro, o congelamento de gastos foi outro. Pretendemos rever as medidas do governo Temer, feitas com o apoio do nosso adversário, para retomar e aquecer a economia brasileira gerando empregos e oportunidades”, afirmou. “Tenho 20 dias para defender o que acredito, a política de democracia e de bem estar social. Vou até o ultimo dia nas ruas defendendo esse projeto, que é o que acredito para o Brasil. Armar as pessoas e cortar direitos vai piorar a situação. Cortar direitos vai fazer com que a situação piore. As pessoas armadas e com menos direitos, vocês vão ver o que irá acontecer”, considerou.
Reunião com Lula após resultado do primeiro turno
“Ele me cumprimentou pela ida ao segundo turno, falou que eu fui um guerreiro, que com 20 dias de campanha consegui 30 milhões de votos. Ele falou: ‘ganha essa eleição e evita o pior’. O Bolsonaro é uma ameaça à democracia”.
Relação com Lula
“Não cuspo no prato que comi, não deixo quem me ajudou. Não compartilho com injustiça. Prefiro ficar sozinho defendendo uma posição justa do que ficar com 99% defendendo uma injustiça”.
Fake News
“Se o Bolsonaro estivesse interessado em afastar as mentiras da Internet, teria aceitado assinar o protocolo ético. Como vêm dele as mentiras, não vai assinar protocolo nenhum. Ele vai seguir atacando, como tem acontecido com a Manuela. Ela tem sofrido diariamente com isso. Hoje mesmo estava conversando com ela sobre um vídeo. Ele não tem interesse em assinar porque só cresce na mentira, não cresce na verdade”.
Rejeição dos eleitos a partidos tradicionais
“Todo mundo deve ter errado um pouco para chegar ao risco de estar quase elegendo uma pessoa que, em 28 anos na Câmara, não fez nada para o país. O PSDB, que praticamente acabou, fez 4% de intenções de voto. O PSDB nos últimos 24 anos elegeu presidente ou chegou ao segundo turno, agora fez 4%, isso também deve significar alguma coisa. Todo mundo tem uma cota para a gente estar com um risco tão grande. Olhando o noticiário mundial você vê a preocupação com o que está acontecendo no país”
“Todos os partidos cometeram erros que estão sendo julgados pela justiça. O PSDB, o PMDB também foram afetados por essas denúncias. O resultado mostra uma desconfiança na classe política. O papel do candidato é se apresentar como um individuo”.
Mudanças no Congresso
“Vi muito devidamente o perfil dos parlamentares e não vi nenhum defender taxa de juros altas, nenhum defender os juros que os bancos cobram. Eu sou o único que defende uma reforma bancária. Não vi candidato defender o congelamento de investimentos públicos por 20 anos. Não vi nenhum candidato defender teses que foram aprovadas com apoio do partido do Bolsonaro. Eles precisam rever essas situações para a economia avançar.”
Venezuela com vitória do PT
“Nós geramos 5 milhões de empregos, as melhores oportunidades educacionais, nós sabemos fazer. Queremos retomar um Brasil que deu certo. O que gerou essa crise foi a sabotagem após a eleição de 2014. Vamos retomar. Quem me conhece sabe que sou uma pessoa do diálogo, que respeita a democracia e quem pensa diferente de mim. Sou professor com muito orgulho, vivo de salário, sou neto de um líder religioso que tem até hoje o nome bem no Líbano, de onde saiu há mais de 60 anos. Nunca compactuei com nenhum tipo de autoritarismo. Hoje, vejo candidato defendendo a tortura, estupro em cárcere. Estou duelando com uma pessoa que defendeu o estupro em cárcere na ditadura. Vou defender o meu país do que pode acontecer e armado só com argumento. Nunca, jamais, com armas.”
Debates de segundo turno
“Espero que ele (Bolsonaro) compareça. O segundo turno é para você comparar os dois projetos escolhidos pela população para um confronto democrático. Eu nunca fugi de um debate. Como ele tem dado entrevistas, creio que esteja em condições de debater. É o futuro do Brasil em jogo, o mundo inteiro quer saber o que vai acontecer no país. Vou debater com respeito, não vou desrespeitar ninguém. O eleitor que nos colocou no segundo turno, ele precisa de uma satisfação e consideração de nós dois.”