50O Inter deverá buscar o ressarcimento dos danos financeiros causados ao clube durante a passagem de Vitorio Piffero pela direção do clube, entre janeiro de 2015 e dezembro de 2016, pela “gestão temerária ou irregular” de seus dirigentes naquele período. Pelo menos, é o que indica o relatório da comissão de sindicância ao qual a reportagem do CP teve acesso. No capítulo da “Conclusão Final”, o item 9 do documento é claro: “Cópia desta decisão deverá ser encaminhada ao Conselho de Gestão, para fins de avaliar eventual observância de sugestões e recomendações aqui contidas e eventuais medidas judiciais cabíveis para ressarcimento dos prejuízos causados ao patrimônio do Clube”.
O caminho até um eventual ressarcimento, porém, é longo e tortuoso. O clube, após aprovação do Conselho Deliberativo, deverá ingressar na Justiça contra os apontados como responsáveis pela comissão de sindicância. O trâmite deverá ser demorado e renderá muitos rounds nos tribunais. “Se as provas são tão contundentes como foram divulgadas até agora, não há outro caminho. O clube precisa buscar uma reparação. Mas antes, o amplo direito de defesa das partes deve ser garantido e, em seguida, o relatório tem que ser aprovado por todo o Conselho Deliberativo (CD). Esse processo está em seu início ainda”, reconheceu um integrante da direção.
O relatório da sindicância tem 83 páginas e foi enviado a poucas pessoas. Em tese, somente para os apontados como responsáveis pelos problemas da gestão, inclusive o próprio Piffero e seu vice de finanças, Pedro Affatato, e os integrantes da mesa diretora do CD. Nem o presidente do clube recebeu o documento. “Conheço as partes que li no Correio do Povo. Mas nem eu, nem ninguém do Conselho de Gestão teve acesso ao material”, afirmou Marcelo Medeiros.
À tarde, o presidente em exercício do CD, Paulo Rogério Silva dos Santos, divulgou uma nota oficial na qual afirmou respeitar “o livre exercício da imprensa”, mas salientou que não valida “nenhuma informação que está sendo veiculada”. Nela, também destaca que os oito dirigentes da gestão Piffero citados pelo relatório têm dez dias para encaminhar um novo recurso à mesa diretora do CD. Somente depois disso, todos os mais de 300 conselheiros receberão o relatório.
As informações levantadas pela sindicância foram reveladas pelo CP em sua edição de quinta-feira. Entre elas, a confirmação do grande número de retiradas em dinheiro vivo no caixa do clube ao longo da gestão, que totalizaram quase R$ 10 milhões. Para justificar tais “adiantamentos”, foram apresentadas notas fiscais de quatro empresas que, segundo a auditoria, não existem mais. Outros pontos, como gastos com cartões de créditos corporativos, também foram levantados pela comissão.
Documento será enviado ao MP
Uma cópia do relatório da sindicância será enviado ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público. O órgão já faz, paralelamente à comissão de sindicância, uma investigação sobre os dois anos da gestão de Piffero.
Até o final do ano, o Gaeco deve divulgar o andamento da investigação, que também tem foco na contratação das empresas de construção civil e nos adiantamentos em dinheiro, mas expande-se por outras áreas.
No início do ano, por exemplo, o zagueiro Ernando, à época ainda no Inter, foi chamado a dar um depoimento no MP. A comissão de sindicância, em seu relatório, recomenda que o MP aumente a investigação sobre o departamento de futebol envolvendo, segundo o texto, “medida de afastamento de sigilo dos possíveis investigados, entre outras providências de natureza cautelar”.