O ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu (PT), criticou, nesta quinta-feira, a prática da delação premiada, mecanismo adotado pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal a fim de elucidar crimes relacionados a corrupção. Conforme o petista, as prisões vêm sendo flexibilizadas, desde que os réus colaborem com os investigadores.
“Só está preso quem não fez delação no Brasil. Destruíram as empresas e os empresários estão todos soltos, com seus patrimônios. Quem não fez delação está preso, é só conferir. Aliás, tem ‘cento e noventa e tantos’ em liberdade que fizeram delação e não chega a uma dezena os que não fizeram e estão presos”, ressaltou, durante entrevista exclusiva ao programa Esfera Pública, da Rádio Guaíba.
Dirceu já recebeu duas condenações no âmbito da Lava Jato e responde em liberdade, desde o fim de junho, após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Nessa quarta, ele teve a segunda pena reduzida, de 11 anos e 3 meses para 8 anos e 10 meses, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre. Nesse processo, o ex-ministro responde por irregularidades em contratos para fornecimento de tubos para a Petrobras. Ao classificar a condenação como “política”, Dirceu também disparou contra a Lava Jato.
“A Lava Jato é seletiva e fez mais mal ao país do que bem. Com o passar dos anos nós vamos ver. Ela violou a Constituição e valeu (a premissa de que) ‘o fim justifica os meios’. A Lava Jato ainda vai ser revisitada pela história e por historiadores, mas ainda é muito cedo”, considerou.
Em outro processo, o ex-ministro teve a pena aumentada, para 30 anos e 9 meses, também pelo TRF4, pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Por quase dois anos, Dirceu se manteve preso, de agosto de 2015 a maio de 2017. Em seguida, obteve um habeas corpus que o manteve usando tornozeleira eletrônica, por um ano. Em maio passado, voltou a ser preso e cumpriu um mês no regime fechado, até que o Supremo entendeu que ele pode aguardar o julgamento dos recursos pendentes em liberdade.
O ex-líder petista comentou, ainda, a relação com o também presidiário e ex-correligionário Antonio Palloci. Alvo da Lava Lato, o ex-ministro da Fazenda, que teve delação negada, afirmou ter tramado com o ex-presidente Lula para barrar as investigações da operação. De acordo com Dirceu, após o teor da colaboração se tornar público, Palloci passou a ser alvo do PT.
“O Palloci não foi abandonado pelo partido, nem nós renegamos o passado dele, mas o problema é que o Palloci mudou de lado. Ele está no direito, mas não pode fazer uma delação mentirosa. Uma farsa. O próprio judiciário disse que era uma delação sem prova. O Palloci não tem mais nada a ver conosco. Ele mudou de lado. Na época da ditadura, quando as pessoas faziam isso, nós chamávamos de ‘cachorro da polícia’… Porque passava a ajudar a polícia a prender, torturar e matar as pessoas”, compara.
Ainda durante entrevista, Dirceu falou sobre a corrida eleitoral e refutou a possibilidade de o capitão da reserva, Jair Bolsonaro (PSL) sair vencedor na disputa presidencial. “Acho bastante improvável, pois basta olhar a rejeição dele nas pesquisas. É improvável que ele vença”, considera. De outro lado, o ex-ministro descartou a possibilidade de participar de um eventual governo de Fernando Haddad (PT): “A chance é zero. Haddad tem muitos conselheiros. Ele tem muita capacidade para governar o país e não precisa de mim”.
O ex-ministro da Casa Civil também defendeu a realização de uma reforma política, tributária e bancária para equalizar a desigualdade do Brasil. José Dirceu vai além e culpa as classes que detêm maior poder aquisitivo pela crise econômica.
“As elites brasileiras querem que o país saia da crise às custas dos trabalhadores, eles não querem dar a sua contribuição. Eles não querem sentar a mesa a fazer uma reforma tributária, política e reduzir os juros. Quem paga imposto, hoje, no Brasil basicamente, o grosso, é o consumo e o assalariado. As grandes fortunas, heranças e doações não pagam imposto. Se continuar nesse caminho, vamos acabar como a Argentina”.