Termina primeiro dia de júri de skinheads que feriram judeus na Cidade Baixa

Até março, 14 pessoas devem ser julgadas pelos crimes

Foto: Ananda Muller / Arquivo

Depois de mais de 10 horas, terminou, na noite desta terça-feira, o primeiro dia de julgamento de três integrantes de um suposto grupo de skinheads acusado pelo Ministério Público de atacar três judeus, em maio de 2005, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. Ao todo, 14 pessoas, apontadas como integrantes de um grupo neonazista, devem ser levadas a júri, até o ano que vem. Todas respondem pelo crime em liberdade. As vítimas sobreviveram ao ataque.

O julgamento começou às 10h30min no Foro Central e vai ser retomado, amanhã, a partir das 9h. Os réus foram denunciados por tentativa de homicídio qualificada com motivo torpe em razão do anti-semitismo e racismo – já que as vítimas eram judeus. Eles também respondem pelo uso de recurso que dificultou a defesa das vítimas e pela prática de meio cruel, já que efetuaram golpes de faca, socos e pontapés.

Durante a tarde, o Ministério Público sustentou, ao longo de três horas, os argumentos da acusação. À noite, a defesa de um dos réus teve uma hora e dez minutos para rebater a denúncia.

Amanhã, o julgamento vai ser retomado com a defesa dos outros dois réus. Cada um dos defensores também vai dispor de uma hora e dez minutos para falar. Depois, o MP ganha mais duas horas e meia para a tréplica e a defesa, o mesmo tempo, para as considerações finais antes do veredito.

Ao término do debate, os sete jurados – seis mulheres e um homem – vão se reunir na sala secreta para proferir a sentença. A expectativa é de que decisão seja conhecida por volta das 18h.

A expectativa do MP é de que os três primeiros réus sejam condenados a 30 anos de prisão. Nesse caso, pode haver redução de 1/3 da pena.

Pela manhã, materiais de conteúdo neonazista foram exibidos durante a sessão. Mais de três réus serão levados a júri em 22 de novembro e os demais a partir de março de 2019.

A sessão é presidida pela juíza Cristiane Busatto Zardo, que considerou complexo o processo, de mais de 16 volumes. “É um júri historicamente importante. Esse processo já demorou 13 anos e temos a necessidade de dar uma resposta, seja qual for ela, o quanto antes. É um julgamento que envolve questões discutidas desde o término da Segunda Guerra Mundial… um julgamento, digamos, moral”, considerou, ao se referir ao nazismo.

Relembre

O ataque contra os jovens judeus ocorreu em 8 de maio de 2005 no bairro Cidade Baixa. Os crimes se deram dentro de um bar, situado na esquina entre as ruas Lima e Silva e da República. Eles avistaram as vítimas no lado de fora e partiram para as agressões. Os jovens foram espancados e atingidos a golpes de facas e canivetes. Todos, porém, sobreviveram.

O início do julgamento coincide com o Yom Kipur, uma das datas mais sagradas e celebradas pela comunidade judaica. “Perdão e justiça são muito parecidos em determinados momentos. É mais um sinal de que é possível que se faça justiça depois de tantos anos”, afirmou o presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, Zalmir Chwartzmann, que esteve presente na sessão pela manhã.

“Agrediram três meninos cujo único crime era estar com o quipá”, recordou, referindo-se aos pequenos chapéus usados pelos judeus como tradição. Os 13 anos de andamento do caso chamaram a atenção dele. “Como o sistema judiciário demora tanto tempo para chegar até esse momento?”, questionou.