Lenda é uma “contação” de histórias transmitida oralmente através dos tempos, onde se misturam acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais aos fatos reais, usando o imaginário, ou a fantasia, e que vão se modificando através do imaginário popular. Já os mitos são narrativas que possuem um forte componente simbólico.
O nosso Rio Grande do Sul é rico em lendas, causos, estórias e histórias fantásticas. Cada cidade tem as suas, ricas, engraçadas, inquietantes, de autores desconhecidos ou conhecidos, enfim… Quem não conhece a “Lenda do Negrinho do Pastoreio” que tem até música feita pelo Barbosa Lessa, por Apparicio da Silva Rillo, Mário Barbará, entre outros destacados compositores nativistas?
E muitas outras como “A Casa de Mbororé” do tempo dos Sete Povos da Missões, cujo guardião, um índio velho muito fiel aos padres jesuítas até hoje permanece pela volta guardando a Casa Branca, sem portas e janelas, onde estão os tesouros em ouro e prata, alfaias e jóias deixados para trás na fuga dos religiosos que nunca mais voltaram.
Nesse tempo, ainda vivia um índio com um lunar na testa, bom e valente, que lutou contra os estrangeiros para defender a terra missioneira. Seu nome: “Sepé Tiaraju”. Era protegido por São Miguel Arcanjo. Nas lutas, em noites escuras, guiava seus comandados através da luz que brilhava de sua testa e que quando morreu em batalha, Deus retirou-lhe o lunar e o colocou no céu da pampa se tornando o Cruzeiro do Sul, guia de todos os gaúchos.
Aqui em Porto Alegre temos a fantasmagórica “Moça do Cemitério”. Diz que vez em quando ela aparece num ponto de táxi da Otto com a Cavalhada, loira, linda, magérrima, branquíssima dentro de um vestido vermelho chamativo, e sempre à noite. Embarca no carro e manda tocar para um lugar qualquer que passe pelo cemitério da Vila Nova e, ao passar por este, ela simplesmente desaparece de cena. Conta a lenda que muitos taxistas transportaram a “fantasma do cemitério….” e se pelam de medo de reencontrar com a dita cuja.
Lá em Tramandaí, diz que na Lagoa do Armazém aparecia o tal de Minhocão! Uma espécie de serpente monstruosa, enorme, com olhos e língua de fogo, com pelos na cabeça… A culebra virava embarcações com rabanadas e ainda deglutia porcos e galinhas que andejavam pelas margens da lagoa… Parece que a enjoada se bandeou para o mar… o povaréu não tem nem notícias mais da esfomeada minhocona.
Mas interessante é a Lenda do Umbu. Árvore grande e folhuda que cresce muitas vezes solitária na pampa atraindo para sua sombra e abrigo os campeiros, os tropeiros de antanho, os carreteiros que faziam pouso sob sua proteção. Embora tenha um tronco grosso, as raízes fora da terra também grandes, nada se aproveita de sua madeira porque é quebradiça, farelenta e fraca. E sabem por quê?
Quando Deus criou o mundo, ao fazer as árvores, perguntava a cada uma delas o que queriam na terra. A macieira, a laranjeira, a bergamoteira, etc., quiseram frutos deliciosos. O Angico, o Pau-Ferro, o Ipê, a Guajuvira pediram madeira forte. E Nosso Senhor perguntou ao Umbu o que ele queria. Ele respondeu que não queria madeira forte, nem frutos deliciosos e sim apenas folhas largas para as sesteadas dos gaúchos e uma madeira mui fraca que se quebrasse do nada.
E Deus mais uma vez lhe fez uma pergunta. Desta vez procurou saber por que o Umbu queria uma madeira assim. E o Umbu respondeu: “Porque não quero Senhor que algum dia façam dos meus braços a cruz para o martírio de um justo.” E o Grande Pai, que teve um filho crucificado, compreendeu e atendeu o pedido do Umbu. E assim foi feito.
Muitas lendas, causos, contos estão gravados em livros e na memória de nosso povo para que repassemos ao nossos filhos e aos filhos dos nossos filhos. A palavra não pode parar, ela anda, se eterniza, é como um farol que expande sua luz para todos os lados. Não deixem apagar essa luz.