Um militar e 5 suspeitos morrem em megaoperação em comunidades do Rio

Em uma das maiores operações realizadas desde o início da intervenção federal, agentes participaram de ações em 26 comunidades vinculadas aos complexos do Alemão, da Penha e da Maré, na zona Norte da capital

Em uma das maiores operações realizadas desde o início da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, 4,2 mil agentes das Forças Armadas e 70 policiais civis participaram, nesta segunda-feira, de ações em 26 comunidades vinculadas aos complexos do Alemão, da Penha e da Maré, na zona Norte da capital. Blindados e helicópteros foram empregados nas ações.

Houve confrontos, nos quais dois militares foram atingidos e um deles morreu, o cabo Fabiano de Oliveira Santos. Ferido sem gravidade, o soldado Marcus Vinicius Viana Ribeiro está internado no Hospital Central do Exército (HCE).

“Lamentavelmente, o procedimento irracional da criminalidade é fomentar o confronto. Os nossos militares e policiais estão mais bem equipados e mais bem preparados. Porém, diante de um fuzil que é colocado pelo criminoso em automático e descarregado a esmo, há sempre a possibilidade de acontecerem óbitos”, disse o porta-voz do Comando Militar do Leste (CML), coronel Carlos Cinelli.

As forças de segurança confirmaram as mortes de cinco suspeitos de atacar militares e dez prisões. Um deles, conhecido como Sonic, é apontado como responsável pela guerra de facções em Santa Cruz, na região oeste do Rio. Também foram apreendidas quatro pistolas, duas granadas, dois carros, um rádio e cerca de 200 quilos de maconha em tabletes.

A megaoperação envolvia ainda o cumprimento de mandados judiciais, o que acabou não ocorrendo. Todas as prisões foram feitas em flagrante.

Nas redes sociais, diversos moradores reclamaram da situação. “Um tiro veio do Alemão e pegou no telhado do meu vizinho”, escreveu uma mulher, que se identifica apenas como Lorena. Muitas pessoas relataram medo de sair de casa. Outro usuário das redes, Joaquim Gomes, contou que o tiroteio começou cedo. “Despertei ao som de tiros e de helicóptero às 5h da manhã na Penha”, publicou.

De acordo com o coronel Cinelli, o objetivo das forças de segurança é fazer cessar os tiroteios. “Eles não são causados por nós, e sim pelos criminosos, que não tem a menor preocupação com a população. Muitos usam fuzil, uniforme camuflado e colete. Não é possível negociar. Se você dá voz de prisão e oferece a possibilidade de rendição e, mesmo assim, o criminoso resolve descarregar seu fuzil, é preciso se defender. Esperamos que isso vá diminuindo. E os números estão melhorando”, afirmou.

O coronel considerou satisfatório o resultado das ações. Segundo Cinelli, trata-se provavelmente da maior operação, considerando a área de abrangência e a densidade populacional do total das comunidades abrangidas, desde o início da intervenção. Outras operações, porém, já mobilizaram um número maior de agentes das Forças Armadas.

Cinelli disse ainda que ações preliminares foram realizadas ao longo da semana, com o intuito de identificar as melhores condições, o melhor horário e os possíveis riscos para minimizar os danos aos moradores. Ele destacou que o trabalho de inteligência embasou as prisões.

Segundo o coronel, as forças de segurança tiveram conhecimento de que criminosos da comunidade de Antares, em Santa Cruz, pretendiam se deslocar para o Complexo do Alemão para ajudar na resistência à operação. Eles foram surpreendidos chegando às comunidades.

Denúncias de abuso

A organização não governamental (ONG) Justiça Global publicou nota de solidariedade aos moradores das comunidades alvo da operação apontando “gravíssimas situações de abuso”. “Casas foram invadidas, celulares estão sendo revistados, e pessoas estão sendo detidas por participarem de grupos de WhatsApp que traziam alertas de segurança aos moradores. Por mais uma vez, aulas foram suspensas nas escolas das proximidades”, cita o comunicado.

Publicações nas redes sociais também criticaram abusos. “Agora tá só os helicópteros, mais cedo estava pior, invadiram até a casa da amiga da minha mãe”, escreveu uma usuária sobre o que ocorria na Penha.

O coronel Cinelli disse que os militares agiram dentro da lei. “Se um indivíduo foi flagrado em atividade ilícita e se refugiou em uma casa, esse domicílio pode ser revistado. Só nessa condição, ou então com mandado judicial”. O coronel ressaltou que abusos não podem ocorrer e são passíveis de punição.

Cinelli destacou que a população vem colaborando efetivamente com a intervenção e pediu que os moradores do Rio de Janeiro continuem denunciando e confiando no trabalho que está sendo feito para que a tranquilidade seja devolvida à cidade.

“Esta noite recebemos dezenas de denúncias, e várias delas se confirmaram. Significa que a população está ciente dos canais e tem contribuído. Nada melhor do que um dado preciso daquele que está dentro da comunidade”. O coronel recomendou que os moradores se afastem de áreas de atividade criminosa. “Nada justifica, por exemplo, frequentar uma festa onde há homens armados com fuzil na entrada.”