Aloysio reage a recomendação de comitê da ONU sobre Lula

Ministro defendeu atuação de instituições brasileiras através do Twitter. Mais cedo, defesa do ex-presidente afirmou que órgão havia determinado medidas para garantir ao petista o direito de ser candidato

Brasília- O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, recebe o ministro de Negócios Estrangeiros e da Cooperação Internacional dos Emirados Árabes Unidos, xeque Abdullah Bin Sultan Al Nahyan, no Palácio do Itamaraty. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, usou o Twitter, na tarde desta sexta-feira, para defender a atuação das instituições brasileiras nas eleições. Ele reagiu a solicitações feitas pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU, no sentido de o Brasil adotar medidas para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva “possa desfrutar e exercer seus direitos políticos, enquanto esteja na prisão, como candidato.”

O chanceler reproduziu uma nota divulgada pelo Itamaraty, segundo a qual a delegação do Brasil em Genebra tomou conhecimento, “sem qualquer aviso ou pedido de informação prévios”, da deliberação do comitê. De acordo com ele, o grupo é composto “não por países, mas por peritos que exercem a função em sua capacidade pessoal”, e cujo caráter das conclusões é de “recomendação”, sem “efeito juridicamente vinculante.” Ou seja, o Brasil não é obrigado a adotá-las, segundo o ministro.

As recomendações do comitê serão encaminhadas ao Poder Judiciário brasileiro, segundo Aloysio. “O Brasil é fiel cumpridor do Pacto de Direitos Civis e Políticos. Os princípios nele inscritos de igualdade diante da lei, de respeito ao devido processo legal e de direito à ampla defesa e ao contraditório são também princípios constitucionais brasileiros, implementados com zelo e absoluta independência pelo Poder Judiciário”, concluiu.

Mais cedo, a defesa de Lula divulgou nota confirmando que o Comitê de Direitos Humanos da ONU havia expedido uma determinação ao governo brasileiro. Veja o comunicado, na íntegra:

Na data de hoje (17/08/2018) o Comitê de Direitos Humanos da ONU acolheu pedido liminar que formulamos na condição de advogados do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 25/07/2018, juntamente com Geoffrey Robertson QC, e determinou ao Estado Brasileiro que “tome todas as medidas necessárias para que para permitir que o autor [Lula] desfrute e exercite seus direitos políticos da prisão como candidato nas eleições presidenciais de 2018, incluindo acesso apropriado à imprensa e a membros de seu partido politico” e, também, para “não impedir que o autor [Lula] concorra nas eleições presidenciais de 2018 até que todos os recursos pendentes de revisão contra sua condenação sejam completados em um procedimento justo e que a condenação seja final” (tradução livre).

A decisão reconhece a existência de violação ao art. 25 do Pacto de Direitos Civis da ONU e a ocorrência de danos irreparáveis a Lula na tentativa de impedi-lo de concorrer nas eleições presidenciais ou de negar-lhe acesso irrestrito à imprensa ou a membros de sua coligação política durante a campanha.

Por meio do Decreto Legislativo nº 311/2009 o Brasil incorporou ao ordenamento jurídico pátrio o Protocolo Facultativo que reconhece a jurisdição do Comitê de Direitos Humanos da ONU e a obrigatoriedade de suas decisões.

Diante dessa nova decisão, nenhum órgão do Estado Brasileiro poderá apresentar qualquer obstáculo para que o ex-Presidente Lula possa concorrer nas eleições presidenciais de 2018 até a existência de decisão transitada em julgado em um processo justo, assim como será necessário franquear a ele acesso irrestrito à imprensa e aos membros de sua coligação política durante a campanha.

Valeska Teixeira Zanin Martins

Cristiano Zanin Martins