Pelotas: morre mulher que descobriu câncer dois meses após exame ter dado negativo

Família da vítima deve processar a Prefeitura e o laboratório SEG, que é investigado pela suspeita de realizar exames por amostragem

Familiares sepultaram, no fim de semana, em Pelotas, na metade Sul, Emanuelle Machado da Silva, de 33 anos. Ela morreu na última sexta, vítima de câncer. Segundo tia, Ana Clara Machado, em julho de 2015 a auxiliar de serviços gerais começou a ter sangramentos e incontinência urinária e procurou a Unidade Básica de Saúde do Barro Duro, no Laranjal, em Pelotas.

Emanuelle realizou o exame Papanicolau – que na época era analisado pelo Serviço Especializado em Ginecologia (SEG) –, que deu negativo para câncer. “Em setembro do mesmo ano, com os sintomas o médico da UBS indicou que ela procurasse o serviço de ginecologia do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas, já que ela seguia sangrando”, relatou. Na rede privada, os exames apresentaram lesões de grau quatro e comprovaram um tumor maligno.

Pelo exame, o câncer já havia se espalhado para o rim esquerdo e a uretra. “Segundo os médicos não havia mais o que fazer. Apenas cuidados paliativos, como quimioterapia, que ela conseguiu fazer uma sessão, e radioterapia”, completou a tia, que cuidou de Emanuelle no hospital. Ela contou que a sobrinha ficou em busca de tratamento até falecer e esteve internada no último mês. Emanuelle deixou um filho de 15 anos.

A intenção da família é processar tanto a prefeitura como o Serviço Especializado de Ginecologia, laboratório terceirizado que fazia a análises dos exames. A advogada Samira Pereira representa a família da Emanuelle. “Na sexta-feira temos uma reunião com familiares e estaremos ingressando com ação indenizatória na próxima semana. A negligência é nítida nos exames”, destacou.

Casos atuais submetidos a auditoria

A Prefeitura de Pelotas disse que estão sendo submetidos a auditoria, na Secretaria Municipal de Saúde, todos os casos atuais de tratamento de câncer do colo do útero. O serviço de saúde pública de Pelotas garante ter feito todos os encaminhamentos para o diagnóstico e o tratamento de Emanuelle pelo SUS. A assessoria de comunicação do município negou que tenha havido negligência por parte do município.

Informações mais detalhadas serão conhecidas ao término da sindicância administrativa que investiga o caso, no âmbito da Procuradoria-Geral do Município. O resultado vai ser encaminhado às autoridades competentes, como o Ministério Público e a Polícia Federal. Sobre a entrada na justiça da família de Emanuelle, a Prefeitura disse que ainda não recebeu nenhuma notificação.

Laboratório: casos são “explicáveis”

O laboratório SEG, que é investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal pela suspeita fazer análises por amostragem nos laudos de exames de Papanicolau entre 2014 e 2017, desmente essa acusação.

Conforme a advogada do laboratório, Cristiane Ualt Fonseca, todos os casos que estão aparecendo são explicáveis: “Estamos reunindo material para refutar essas acusações em específico”, concluiu.

Ainda conforme Cristiane, o resultado do exame de Emanuelle indicou inflamação por Gardnerella em nível endocervical, ou seja, inflamação profunda. Ela sustenta que essa inflamação dificulta a visualização de células neoplásicas – indício de que existe tumor. “Outrossim, na requisição da paciente onde consta o exame clínico que é feito na UBS, a inspeção do colo do útero dá ‘normal'”, finaliza.