A Polícia Civil de Sapiranga, no Vale do Sinos, prendeu, nesta terça-feira, o coordenador terapêutico e um dos monitores da Associação Terapêutica Ferrabrás, investigada pelos crimes de sequestro, cárcere privado, tortura, maus tratos, formação de milícia e fraude processual. Também hoje, os policiais encontraram, parcialmente carbonizado e com as mãos e pés amarrados, um corpo que, ao que tudo indica, é de outro monitor do local.
Os dois presos hoje já haviam sido detidos em flagrante, em 30 de julho, em operação conjunta da Polícia Civil, Brigada Militar e Corpo de Bombeiros deflagrada a partir de um pedido do Ministério Público de interdição da clínica. No dia seguinte, a Justiça aceitou o pedido de liberdade das 12 pessoas presas, por provas insuficientes. Uma delas, o monitor Ivan Carlos de Oliveira, de 44 anos, que a Polícia suspeita ter encontrado morto hoje.
“Colocamos GPS no carro do dono da comunidade terapêutica preso hoje”, explica o delegado Rafael Sauthier. De acordo com ele, “o GPS coloca o carro na cena do crime de homicídio”. O policial explica que as prisões ocorreram em flagrante com a dupla prestes a viajar para fora do Rio Grande do Sul. Já a localização do corpo, que surpreendeu a Polícia, ocorreu no início da noite.
As prisões ocorreram, à tarde, durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão e mandados de prisão preventiva, expedidos pelo juiz da Vara Criminal da Comarca de Sapiranga. Conforme a Polícia Civil, os pedidos foram motivados pela prática dos crimes de coação no curso do processo, ruptura da ordem pública e reiteração criminosa para prejudicar o inquérito policial.
Quando a Polícia entrou na clínica, localizou o coordenador terapêutico, funcionários e um interno que sofre de transtorno mental. Conforme o delegado, os presos faziam as malas para, supostamente, viajar a Santa Catarina e, no estado vizinho, abrir uma nova clínica terapêutica. O interno recebeu auxilio da Assistência Social e vai ser encaminhado a uma clínica adequada. Os dois detidos serão conduzidos ao sistema prisional.
O coordenador terapêutico, de 45 anos, tinha antecedentes criminais por furto, furto qualificado, lesão corporal, comunicação falsa de crime ou de contravenção, ameaça, sequestro e cárcere privado e associação criminosa. Já o funcionário, de 31, tinha antecedentes por posse de entorpecentes.
Sobre o caso
A Associação Terapêutica Ferrabrás, em Sapiranga no Vale do Sinos, trata pacientes com dependência em drogas e álcool. Foram encontradas irregularidades nas três casas ocupadas pela Associação, como falta de atendimento médico e psicológico, péssimas condições de higiene e medicamentos vencidos e sem receita. Os mais de 50 pacientes internados nos locais ainda relataram que vivem sob cárcere privado e que sofrem torturas como surras e choques.
Em 30 de julho, foram presos o coordenador terapêutico, Darlon Carvalho Rodrigues, e a mãe dele, Nelci Carvalho Rodrigues, atual presidente da Associação, além de mais dez terapeutas, conforme a Polícia Civil. A operação ocorreu após o ajuizamento de uma ação civil de execução de Termo de Ajustamento de Conduta assinado com a Associação, e que, conforme o Ministério Público, não vinha sendo cumprido.
No dia seguinte, a Justiça aceitou o pedido de liberdade do grupo. A defesa alegou que não há provas suficientes para manter os acusados na prisão. “Pela documentação não tinha como comprovar que, realmente, aconteciam torturas. Os materiais apreendidos eram ferramentas utilizadas no campo e a clínica funcionava numa fazenda. Eram materiais utilizados na fazenda realmente. E não vimos também nenhum material de tortura apreendido. Com base nisso nós fizemos a defesa”, disse o advogado de defesa Pablo Aboal.