Presidente da ABAG defende protagonismo do Brasil frente à China

Congresso Brasileiro do Agronegócio debateu formas do País se adaptar ao cenário mundial marcado por uma guerra comercial

Foto: Fundação Getulio Vargas

A discussão sobre os impactos para o agronegócio brasileiro de um mundo marcado por uma guerra comercial entre Estados Unidos e China, que tem deslocado o pêndulo geopolítico para a Ásia, a necessidade de valorização da OMC – Organização Mundial do Comércio e do multilateralismo e a discussão das novas fontes de financiamentos para o agro, além de uma análise do que é prioritário e urgente em relação aos debates das próximas eleições. Esses foram os principais tópicos debatidos durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido nessa segunda, em São Paulo, pela ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio e B3 – Brasil Bolsa Balcão e que reuniu 870 participantes.

No encerramento do evento, Felipe Paiva, diretor da B3 salientou a importância da parceria firmada com a ABAG. “Nossa conclusão é a de que, juntos com a ABAG, conseguimos potencializar os resultados do agronegócio em nosso país”, afirmou. Já o presidente da ABAG, Luiz Carlos Corrêa Carvalho salientou a importância dos debates realizados, sobretudo em relação à nova geopolítica mundial. “Em meio a toda a problemática interna que envolve, entre outras coisas, a absurda tabela do frete, o principal ponto destacado nas discussões foi o da volta do pêndulo da geopolítica mundial para a Ásia, com a China ganhando peso, cenário em que o Brasil pode se tornar mero expectador ou assumir de vez seu protagonismo mundial como um importante exportador de alimentos, energia e fibras”, comentou

A questão do cenário externo apontada por Carvalho foi detalhada na palestra Geopolítica e Mercado Internacional: Impactos para o Brasil, na qual o embaixador brasileiro em Washington, Sergio Amaral pontuou que o agronegócio brasileiro tem dois desafios nos próximos anos. A seu ver, a curto prazo será necessário ampliar e manter a produtividade, a médio prazo, o setor vai necessitar dar um salto em termos de internacionalização, exportando não apenas alimentos, mas também tecnologia e serviços.

Ambos os desafios, de acordo com o embaixador, terão de ser enfrentados dentro de um cenário onde predomina uma guerra comercial entre Estados Unidos e China. “Não somos alvo, mas sofremos as consequências de forma indireta”, disse, acrescentando que nem tudo pode ser negativo. “Se os chineses imporem sanções, por exemplo, na exportação da soja americana, eles (chineses) vão precisar de outros mercados para suprimir a demanda e o Brasil pode ser beneficiado, juntamente com a Argentina, assim como se a China fechar um acordo com os Estados Unidos, pode ser que percamos um mercado importante”, analisou.

A questão americana, aliás, também pode ser uma oportunidade para o Brasil porque, segundo Amaral, o país havia perdido o trem das relações comerciais internacionais em governos anteriores. “Em decorrência da política adotada pelo governo Trump, o trem parou e nosso país, agora, tem a oportunidade de embarcar neste trem, por meio do Itamaraty, que reiniciou a negociação por acordos com diversos blocos e países”, ponderou.

Nesse sentido, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, comentou, durante a abertura do evento, que a agenda de negociações do Itamaraty engloba acordos com o Japão, Canadá, Coreia do Sul e com os países da Aliança do Pacífico, além de estar revitalizando os acordos comerciais do Mercosul. Nunes ainda destacou dois pontos relacionados ao agronegócio: a luta contra as barreiras sanitárias e fitossanitárias e que em termos de sustentabilidade o Brasil é uma referência e não precisa receber lição de nenhum país. “Há ainda muita coisa a ser feita, mas nossa produção agrícola preserva mais de 60% da cobertura vegetal, original, inclusive”, disse.

Em sua apresentação na abertura do evento, o presidente da ABAG, Luiz Carlos Corrêa Carvalho fez questão de salientar a importância de o país não se isolar num cenário mundial marcado por um aumento de medidas protecionistas. “Nesse sentido, para o Brasil e para o Mercosul, o fortalecimento da OMC – Organização Mundial do Comércio é fundamental. Para se ter uma ideia, segundo a própria OMC, uma guerra comercial poderia fazer recuar o PIB global em mais de dois pontos percentuais”, afirmou Carvalho.

Em sua saudação inicial, o presidente da B3, Gilson Finkelsztain, afirmou que, para o país atender as expectativas mundiais em termos de produção e exportação, será necessário diversificar a busca por recursos. “Nesse aspecto, a área de mercado de capitais brasileiro teve grande evolução nos últimos anos. O melhor exemplo disso foi a consolidação dos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), afinal de contas, no ano passado eles representaram uma movimentação de R$ 30 bilhões, um volume que foi o dobro do ano anterior”, informou.

Também participaram da abertura do evento, o prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira, a superintendente Federal do Ministério da Agricultura em São Paulo, Andrea Moura, do secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, Francisco Jardim, o deputado federal Arnaldo Jardim, do presidente da APEX, Roberto Jaguaribe, o presidente da Abitrigo, embaixador Rubens Barbosa, o representante permanente do Brasil na OMC, Alexandre Parola, o presidente da CNA, João Martins da Silva Junior, o representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic, o coordenador dos países produtores do Cone Sul, Gustavo Idigoras, e o presidente em exercício da Embrapa, Celso Luiz Moretti.