A discussão sobre modernidade é mais velha que a bola no futebol. Aqueles que se julgam inventores da roda sempre dirão que algo de hoje já acontecia antes: “ah, mas no meu tempo já tinha isso”. Faz parte. As tendências são cíclicas, se reinventam.
Falemos do futebol enquanto jogo, como estratégia. Em 2008, no boom de Guardiola no Barcelona, o mundo passou a encarar o tiki-taka como uma forma moderna de se jogar futebol. Qualquer ideia diferente de ter a posse de bola era ultrapassada. Jogo reativo? Nem pensar! Que feio!
Os anos passaram, Guardiola, gênio que é, conduziu o Barcelona a um nível histórico, sobrou na Alemanha com o Bayern de Munique e agora conquista a Inglaterra com seu Manchester City. Mas antídotos foram criados. Outros modos de se pensar futebol, moldados para frear esta máquina de proposição, foram obtendo êxitos impensados. O Leicester, claro, é o principal exemplo.
O QUE É MODERNO?
A grande questão aqui é sobre atualização, tendência e aplicação. O que Guardiola nos apresentou a partir de 2008 ainda é moderno? Passar a bola de um lado para outro buscando e tentando criar espaços ainda é atual?
Jogar com três zagueiros é moderno num semestre, ultrapassado em outro, inovador no ano seguinte e antiquado depois. Jogo direto – ou bola longa – é modelo aqui, estratégia ali e simples alternativa acolá. O desenho, por vezes inútil, nos fez acreditar durante duas décadas que o 4-3-3 era obsoleto. Agora, não mais.
E ter a bola? Será que dominar a posse de bola é mesmo tão atual? O atual é ficar com a posse – a melhor forma de se defender é ter a bola, lembram? – ou abrir mão dela, dar campo ao adversário e usar a velocidade para surpreendê-lo?
Uso esta perspectiva para discutir o rumo dos objetivos e abordar os termos prontos – e por vezes nada corretos – como “ideia ultrapassada”, “técnico moderno”, “modelo arcaico” e por aí vai. Afinal, talvez o que Guardiola recolocou no mainstream em 2008 não seja mais tão moderno assim.
Nota 1: Se está pensando em escrever que “Guardiola não sabe nada, a Holanda já fazia isso em 74!” ou que “esse cara só copiou a Seleção Brasileira de 82”, saiba que você se enquadra nos inventores da roda. Lá no primeiro parágrafo.
Nota 2: A ideia aqui não é discutir certo e errado. É simplesmente debater: será que o estilo de jogo preponderante no mundo hoje não está mudando?