Polícia da Nicarágua culpa segurança privada pelos tiros que mataram brasileira

Horas antes, reitor disse que paramilitares dispararam contra a universitária

A polícia da Nicarágua negou nesta terça-feira que um grupo de paramilitares tenha assassinado a estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima, como havia informado o reitor da Universidade Americana (UAM), Ernesto Medina.

“Um vigilante de segurança privada, em circunstâncias ainda não determinadas, realizou disparos com arma de fogo, um dos quais a impactou e causou ferimentos”, informou a Polícia Nacional, que não identificou o autor dos tiros.

Horas antes, Medina tinha dito que “paramilitares” que haviam saído da casa de Francisco López, tesoureiro do partido governista, dispararam contra a brasileira, que era estudante de Medicina na UAM.

Lopez, que é integrante da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), era até pouco tempo atrás gerente de duas grandes empresas estatais relacionadas com o petróleo e o setor de construção e afetadas pelo Global Magnitsky Act, dos Estados Unidos, que o acusou de graves violações aos direitos humanos.

Os paramilitares na Nicarágua agem em conjunto com a polícia em ataques à população civil, segundo diversas denúncias acompanhadas de vídeos.

Crise
O assassinato ocorre em meio a uma crise sociopolítica com manifestações contra o presidente Daniel Ortega. A repressão governamental aos protestos já deixou entre 277 e 351 mortos, de acordo com organizações humanitárias locais e internacionais.

A Nicarágua está imersa na crise mais sangrenta da história do país em tempos de paz e a mais forte desde a década de 80, quando Ortega também presidiu o país (1985-1990).

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ONU-DH) responsabilizaram o governo da Nicarágua por “assassinatos, execuções extrajudiciais, maus tratos, possíveis atos de tortura e prisões arbitrárias”.

Os protestos contra Ortega e a esposa, a vice-presidente Rosario Murillo, começaram no dia 18 de abril devido a fracassadas reformas na Previdência Social e se transformaram em um grande pedido de renúncia ao presidente, que acumula 11 anos no poder em meio a acusações de abuso e corrupção.