A vencedora da licitação para escolher a empresa responsável por executar as obras de restauro de 11 armazéns do Cais Mauá deve ser conhecida em breve. Dentro de aproximadamente 20 dias, o consórcio Cais Mauá, que administra o processo de revitalização do espaço, divulga a empresa escolhida. Conforme Vicente Criscio, diretor-presidente da entidade, seis empresas consorciadas e uma individual concorrem para garantir o direito de executar essa fase da obra.
Para entender o processo de restauro do Cais Mauá, é preciso fazer uma pequena viagem no tempo. O processo de concessão do espaço remonta a 2010, quando a empresa vencedora foi divulgada pelo governo estadual. Na prática, ela iniciou os trabalhos em 2012, e apenas no fim de 2017 obteve as licenças necessárias para iniciar as obras. Nesses oito anos, os porto-alegrenses não começaram a ver, efetivamente, as mudanças prometidas para a região.
A obra foi dividida em três fases: armazéns, “open mall” e docas. A fase atual é a de armazéns, e compreende o restauro de 11 prédios localizados em toda a extensão da avenida Mauá, desde o Gasômetro até as proximidades do Mercado Público. Nessa etapa serão refeitas obras estruturais (paredes, estruturas metálicas e telhados) e também de infraestrutura (água, esgoto, luz, internet). A licitação em processo final prevê apenas as obras de estrutura.
Desde 4 de março até agora, data do pontapé inicial das obras, o consórcio executou trabalhos de remediação ambiental, que compreenderam a retirada de mais de 300 metros cúbicos de resíduos da região. Essa etapa é fundamental para que se descontamine o solo de uma região que, por décadas, foi utilizada como porto e concentra grande número de substâncias tóxicas. Agora, o resultado das análises dos materiais recolhidos vai ser encaminhado através de relatório para a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, a quem cabe dar aval à continuidade das obras estruturais, sem prazo exato de início.
No máximo até a próxima semana a empresa espera colocar na rua, também, o certame para os trabalhos de infraestrutura, que serão realizados de forma concomitante com os demais. Na prática, Criscio espera poder iniciar os trabalhos nos armazéns entre outubro e novembro, e terminá-los em 12 meses. Entretanto, esses prazos não são estanques e podem ser ampliados conforme a demanda.
A utilização posterior dos armazéns foi dividida em três setores, chamados pela empresa de “clusters”. O primeiro, mais próximo ao Catamarã, vai ser destinado para serviços e lojas menores, como conveniências, cafés e utilidades. Ao lado do pórtico do Cais Mauá, deve ficar o cluster destinado para inovação, tecnologia e cultura. Já no terceiro setor, mais próximo ao Gasômetro, deve haver espaço para lojas maiores.
A empresa afirmou que está em tratativas com a Prefeitura acerca de alterações no projeto inicial de reforma dos armazéns. Essas mudanças, no entanto, não devem modificar a ideia concebida para o espaço, tendo como objetivo melhorar o previsto inicialmente. De todo modo, as obras nos armazéns ainda dependem do aval da Secretaria Estadual do Meio Ambiente para começarem.
Projeto conta com três fases
A novidade fica por conta do conceito de “open mall” previsto para a região mais próxima ao Gasômetro. Ao contrário de um shopping vertical, o consórcio Cais Mauá pretende apresentar à prefeitura uma opção diferenciada, com o centro de compras distribuído por um espaço maior, em prédios diversos, com menos andares. O novo projeto, contudo, segue em fase de finalização e não teve imagens divulgadas até o momento.
A expectativa, desde já, é de obter as devidas licenças de instalação e iniciar as obras até outubro de 2020, quando espera-se que os trabalhos na fase de armazéns estejam acabando. Essa etapa, do shopping, também deve ser executada em, aproximadamente, 12 meses. Do mesmo modo que a fase de armazéns e docas, a realização depende da captação de recursos junto à iniciativa privada – investidores – para sair do papel.
A fase de docas, localizadas nas proximidades da rodoviária, ainda é uma questão mais distante. Com previsão de um centro de eventos e dois hotéis, essa etapa deve ter as obras autorizadas apenas no começo de 2022, quando a fase dois estiver sendo encerrada. O prazo para término ainda não é precisado pela empresa.
Cais Mauá revitalizado
No total, estão previstos mais de 3,2 km de extensão modificada e 180 mil metros quadrados de obras, segundo o consórcio. Sem, não falar em valores, o Cais Mauá do Brasil sustenta que ainda está em tratativas com possíveis investidores. A estimativa de aporte, apenas para a revitalização dos armazéns, todavia, é de R$ 140 milhões.
Estão previstas obras de contrapartida no valor aproximado de R$ 40 milhões, grande parte delas no setor viário. Entre as possibilidades estudadas está a duplicação da avenida Mauá, que com a instalação dos empreendimentos projetados, deve receber um fluxo muito superior de veículos em relação ao atual.
Obras atrasadas
O consórcio Cais Mauá admite os atrasos nas obras, e cita alguns elementos para explicar esse quadro: o trabalho maior do que o esperado na retirada de resíduos da área afetada ambientalmente e a operação Gatekeeper, da Polícia Federal, que investigou fraudes em um fundo de investimentos que gerenciou os recursos da obra do Cais até fevereiro, data em que houve mudança na gestão da empresa. Conforme o diretor-presidente, é preciso reconquistar a confiança dos investidores, e isso acabou atrasando o processo.
O consórcio Cais Mauá teve aprovado direito de concessão de 25 anos, renováveis pelo mesmo período, a contar de 2010, data em que venceu a licitação. Entretanto, deve recorrer junto ao governo para solicitar reequilíbrio econômico, tendo em vista que apenas conseguiu iniciar os trabalhos oito anos depois. Na prática, entre outras demandas, deve pedir que o prazo de exploração do espaço seja ampliado pelo mesmo período de espera inicial para início das atividades.