Fux dá uma semana para que entidades cheguem a consenso sobre frete

Ministro do STF ouviu caminhoneiros, indústria e agronegócio

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux coordena audiência de instrução do processo que questiona a legalidade da tabela de preços mínimos do frete para o transporte rodoviário de cargas. Participaram representantes de governo, empresários e caminhoneiros.

O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), realizou hoje uma audiência sobre a tabela de preços mínimos para o frete rodoviário no Brasil, medida que é contestada na Corte. Ele deu prazo até a próxima quinta-feira para que representantes dos caminhoneiros, da indústria e do agronegócio cheguem a um consenso sobre o custo do transporte.

“Todos entenderam que o Brasil não pode mais passar pelos momentos que passou. Então cada um vai dar uma cota de colaboração para o país e entenderam de se reunirem em uma semana para encontrar um preço intermediário e apresentá-lo em juízo”, disse Fux.

O ministro acrescentou que, se não for apresentado esse preço intermediário na próxima quinta-feira, às 11h, ele vai realizar audiência pública para colher informações de especialistas e, somente então, decidir sobre o assunto. A audiência está pré-agendada para 28 de agosto.

Fux é o relator de três ações diretas de inconstitucionalidade (ADI) contra a Medida Provisória 832, editada pelo governo em 27 de maio, que prevê uma tabela de frete mínimo para o transporte rodoviário. As ações foram abertas pela Associação do Transporte Rodoviário do Brasil (ATR Brasil), que representa empresas transportadoras, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

As entidades dizem que a tabela fere os princípios constitucionais da livre concorrência e da livre iniciativa, sendo uma interferência indevida do governo na atividade econômica. O presidente da CNI, Robson Andrade, sugeriu nesta quinta que seja criada uma tabela de preços somente referenciais, e não obrigatórios.

Do lado dos caminhoneiros, o presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos, Diumar Bueno, afirmou que a categoria não concorda com tabela de referência, não abrindo mão de um preço mínimo de frete “que dê condições de sobrevivência” aos condutores.

Participaram da audiência desta quinta-feira a advogada-geral da União, Grace Mendonça; o subprocurador-geral da República Paulo Gonet; o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Mário Rodrigues; representantes dos caminhoneiros e de entidades autoras das ações.

Manifestações

Ao editar a tabela, o governo atendeu a uma das reivindicações dos caminhoneiros, que paralisaram atividades por 11 dias no mês passado, provocando uma grave crise de abastecimento.

Em manifestação enviada ao STF, a AGU defendeu a validade da tabela. Para o órgão, a fixação do preço mínimo do frete tenta garantir valor adequado para a prestação do serviço, que deve ser compatível com os custos incorridos no transporte rodoviário de carga.

Na semana passada, Fux suspendeu, a pedido da AGU, ao menos 53 ações contra a MP tramitando em instâncias inferiores, enquanto o tema não é resolvido no STF. O procedimento visa evitar decisões judiciais conflitantes.

Também em manifestação enviada ao STF, a ANTT defendeu a tabela, apesar de se colocar flexível em “reavaliar” a adoção.

De outro lado, os caminhoneiros dizem que há uma distorção no mercado e que, sem a tabela, não há condições de cobrir os custos do serviço e ainda extrair renda suficiente para o próprio sustento.

Prejuízos

Uma primeira tabela de frete publicada pela ANTT, vigente desde o dia 30 maio, chegou a ser suspensa por um dia neste mês, sendo substituída por outra com preços mais baixos, após reclamações de empresários. Com a ameaça de os caminhoneiros voltarem a parar, a agência decidiu manter a tabela anterior.

Na reunião desta quarta-feira, a CNA trouxe dados compilados pelas entidades filiadas segundo os quais a tabela do frete causou, em 20 dias de vigência, prejuízo de R$ 10 bilhões aos setores de milho e soja.

Segundo a entidade, diversos setores do agronegócio estão evitando transportar ao menos 50% das mercadorias enquanto o impasse sobre o custo do frete não é resolvido. Com isso, ao menos 60 navios estão parados nos portos brasileiros, ao custo de R$ 6,7 milhões por dia, à espera de mercadorias para exportação.

Ainda conforme a CNA, o tabelamento do frete vem causando aumento no preço do arroz e do feijão diretamente na mesa do brasileiro. A alta entre 35% e 50% no frete do arroz provoca alta de 10% no preço ao consumidor final. No caso do feijão, o reajuste pode chegar a 20%, de acordo com a entidade.