O “seu” Edson Nunes Moreira é que conta este acontecido sobre o Maneca, que adaptei para a linguagem do rádio com a participação de colegas da Rádio Guaíba e que, vez em quando, coloco no meu programa Nos Quadrantes do Sul. Lá vai a estória do Causo do Maneca:
O Maneca era um típico “lesera” Xiru sem ofício definido, servia de mandalete para toda a gente daquela querência.
Era conhecido como “guarda-fogo”, porque estava sempre aquartelado no galpão, montado num pai-de-fogo de angico.
Mas como fedia o tal do Maneca, credo! Carregava na carcaça uma catinga das mais “urca”, uma espécie de picumã com graxa de “ovêia” usada para ensebar os arreios, por sinal, uma de suas atividades.
Na lida campeira o lorpa só atrapalhava, servindo somente para recolher os bago de touro em dias de castração. No mais, cevava o mate e ajudava as mulher a recolher os “ovo”, tirar leite, depenar as “penosa” e descascar mandioca.
Mas o Maneca tinha lá o seu orgulho machista: E cheio de xurumelas já se queixando que não era das lides domésticas foi alardeando : Só que “barrê” …. “barrê eu não “barro, bassora é “côsa” de “sirvíçu de muíé”!
Nas roda de prosa nos fim de tarde, o Maneca se mantinha calado e atento e só metia a colher quando chamado. Julgava-se um homem sabido e vivido.
Numa dessas reunião discutiam-se alguns fatos da ciência que causavam muitas controvérsias. Sucede que o espírito puro da indiada daquele pago não atinava certas notícias que apontavam naquelas plagas remotas e inté desconfiavam da veracidade dos acontecidos. E o Maneca vez em quando opinava:
“Dizem que a terra é redonda e inté arródia!!! Mas , de que jeito??? Se fosse ansim, quando a terra virasse de ponta a cabeça, todo mundo caía !!!!
E essa conversa fiada de que o homi foi na lua ???? Quem acredita , é loco da cabeça !!!!e pigarreando)-….hum hum… o papel aceita tudo !”
E o capataz, não se sabe se armando uma pulha para o coitado ou só chamando prosa, disse:
“O que tu acha disso tudo, ô Maneca ???”
O xiru velho fez um ar de sabido, pegou o pito na orêia, acendeu com o avio, pigarreou ruidosamente e lascou:
“Tem cosa que parece uma cosa, mas é OTRA cosa….”
E o Maneca fez uma pausa calculada, tirou outra baforada, olhou para a plateia atenta e arrematou: “QUE COSA…!”
Assucede que o Maneca era uma pessoa benquista. Embora não fosse um vaqueano, tinha lá suas utilidades e estava sempre bem disposto. Porém, tudo que acontecia de pitoresco era debitado pro Maneca.
Doutra feita, a peonada resolveu fazer um retoço de imitações lá no galpão, no cair da tarde. Um deles imitou passarinhos-sabiá, pomba-rôla no ninho, rouxinol, e o escambáu, demostrando bom conhecimento de ornitologia.
Outro, um gorduchito, mostrou como grita um leitão na hora da sangria. Parecia o próprio! Um terceiro imitou tão bem uma galináceo que só faltou botar ovo. Foi quando o capataz intimou:
“Maneca, arremeda um cavalo aí pra gente vê!”
Oigaletê! O vivente, que estava abancado num cepo, deu um prisco, ficou de impé e logo de quatro, deu um bufo e dois traques e se mandou campo fora.
Os gaudério tiveram que enfrenar os cavalo pra tentar alcançar aquele parelheiro. Acharam o Maneca no fundo da invernada, tapado de carrapicho e enroscado pelas bombachas no fio de arame farpado!
(risadas) Dizem inté que ele tentou escoicear um peão que quis lhe passar o cabresto!
Mas não dá pra levar muita fé nesses causo… essa peonada mente uma barbaridade. E na voz de bamo se fumo. Tiá volta Rio Grande!