Praxedes era famoso nas redondezas da Vila de Itapuã, em Viamão… Moreno tipo índio, retaco, parecendo uma tronqueira de guajuvira com manoplas calejadas e uma cabeleira basta e tapada de óleo “glostora”.
Sua fama vinha da força dos moquetes que pareciam dois moirões de eucalipto – um muque de fazer inveja a “qualquera”, adquirido nas lides campeiras , pois que era ginete famoso e domador de primeira.
Além do mais, o dito cujo mostrava habilidade no jogo do osso -proibido pela “gendarmeria“, mas praticado à la floxa nos fundos do bolicho do Zelito logo ali na dobra da Praia do Passarinhos. Praxedes era buenacho na clavada. Era de sorte o melenudo.
Tinha por parceiro o Antão, amigo de churrasquear no mesmo espeto. Os dois toda vez que se topavam era um “tendéu” de trago e bóia. E o amigo vez por outra lhe fazia uma visita – ali no Beco do Dornelles onde Praxedes vivia com a Marivalda, chinoca faceira e lindaça, que o Praxedes havia se amasiado já há algum tempo.
E o Antão que era um tipo meio solitário um certo dia amanheceu de ovo virado e amargo como erva-caúna… Se posicionou nos calcanhares a pensar na vida… Prendeu fogo num palheiro, deu uma cuspida larga para o lado, um chupão e um ronquido no mate… e se deu conta que estava lhe faltando algo… esse algo que o amigo possuía… uma parceira, além da cachorrada que lhe circundava o rancho.
E não é que sem querer querendo passou a invejar o amigo… e pensando nas cambotas da Marivalda, alçou a perna no pingo a la loca e se mandou a la fija ao rancho do parceiro aproveitando a ausência do dito cujo… e isso passou a ser um costume… e a Marivalda, que não era flor de se cheirar com pouca venta, começou a reparar que o Antão tinha lá seus predicados… e como o velho conto do compadre e a comadre que tomavam mate e faltou erva um dia… Antão armando o laço fez a pergunta que não queria calar: “Cojemos ou tomamos um mate???” – Não prestou!
E o empernamento só podia acabar em tragédia!
Resultado: Praxedes chegou mais cedo naquela tarde… pegou os dois na tampa! E armou-se o rolo!
Com a sua bicuda afiada retalhou as polpas do desinfeliz, pois que pegara os dois mais agarrados que carrapichos no catre que era dele… e Antão sangrando como um porco juntou forças e riscou a estrada, não se sabe pra donde… contam por aí que bateu com o alcatra na terra… Já a Marivalda… ah… a Marivalda tinha lá seus poderes, suas manhas e dengos…. e o domador com cisco nos olhos “desfalçando” a lágrima insistente perdoou… porque macho que é macho perdoa… e, como diz o poema de Jaime Caetano Braun, – ” até touro se ajoelha”… inda mais que o inverno estava se aproximando, e um cobertor de orelha lá tem seu valor nas noites frias quando o minuano sopra…