A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) divulgou nota, na noite desta sexta-feira, cobrando “serenidade” do presidente Michel Temer. Foi uma reação ao pronunciamento dele, horas antes, no qual ele acusou de estar sofrendo “perseguição criminosa disfarçada de investigação” e criticou vazamentos do processo.
Os delegados ressaltaram que é preciso que os policiais tenham a “tranquilidade necessária” para realizar a investigação e que serão apurados os supostos vazamentos à imprensa. A entidade alertou para que as manifestações do presidente “não se transformem em potenciais ameaças e venham a exercer pressão indevida sobre a Polícia Federal”.
A ADPF ainda garantiu idoneidade. “A entidade seguirá vigilante com o desenrolar dos acontecimentos e não admitirá pressões ou campanhas com a finalidade de desacreditar a atuação dos Delegados de Polícia Federal na condução dessa ou de qualquer outra investigação.”
Em pronunciamento, na manhã de hoje, Temer se queixou do vazamento de informações a respeito do inquérito sobre o Decreto dos Portos. “Como é que a imprensa consegue estas informações? Eu duvido que a imprensa entre de madrugada, seja na Polícia Federal ou onde seja, para, digamos, sorrateiramente ter acesso a esses dados. Alguém, naturalmente, vaza esses dados irresponsáveis”. Temer, então, cobrou do ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, uma investigação.
Segundo reportagem publicada nesta sexta-feira pela Folha de S.Paulo, em apuração preliminar, a Polícia Federal estima que existam indícios de que o presidente tenha usado dinheiro de propina para reformar imóveis da família e ocultado bens em nome de terceiros. No mesmo pronunciamento, Temer se defendeu das supostas acusações. “Não tenho casa de praia, não tenho casa de campo, não tenho apartamento em Miami, não tenho vencimentos e salários a não ser aqueles dentro da lei”.
No fim da tarde, a Polícia Federal confirmou que abriu inquérito para apurar os possíveis vazamentos de trechos do inquérito.
Veja a nota da ADPF, na íntegra:
A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) manifesta preocupação com a entrevista do Presidente da República, Michel Temer, sobre as apurações de suposta prática de lavagem de dinheiro envolvendo a si e a seus amigos e familiares.
É muito comum que investigados e suas defesas busquem, por todos os meios, contraditar as investigações. Entretanto, é necessário serenidade, sobretudo daquele que ocupa o comando do país, para que suas manifestações não se transformem em potenciais ameaças e venham a exercer pressão indevida sobre a Polícia Federal.
A ADPF reitera que a instituição não protege, nem persegue qualquer pessoa ou autoridade pública, apenas cumpre seu dever legal de investigar fatos e condutas tipificadas como crimes. Vale destacar que, no caso concreto, vários documentos e peças das diligências estão disponíveis ao público no sistema de processo eletrônico do Supremo Tribunal Federal.
É fundamental que as autoridades policiais tenham a tranquilidade necessária para realizar seu trabalho investigativo, com zelo, eficiência, dentro da mais absoluta legalidade, tendo sempre resguardada sua autonomia e respeitada sua independência funcional.
A ADPF defende a apuração de supostos vazamentos causados por qualquer das instituições que manuseiam os autos. A entidade seguirá vigilante com o desenrolar dos acontecimentos e não admitirá pressões ou campanhas com a finalidade de desacreditar a atuação dos Delegados de Polícia Federal na condução dessa ou de qualquer outra investigação.
Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF)