Império Serrano e familiares se despedem de Dona Ivone Lara

Amigos e familiares velaram o corpo da cantora e compositora Dona Ivone Lara, desde o fim da manhã de hoje, na quadra na escola de samba Império Serrano, em Madureira, zona norte do Rio. Dona Ivone teve o corpo coberto com duas bandeiras: a da agremiação e a da Velha Guarda da Império Serrano, ala que integrou desde a fundação da escola, em 1947. Durante o velório, um telão passou imagens de desfiles marcantes em que a escola passou pela avenida embalada pelas composições escritas pela Rainha do Samba.
O neto André Lara, que também é sambista e era parceiro da avó, disse que a família se despede com tristeza mas também com muita tranquilidade pela longa vida que ela teve e pelo enorme legado que deixou. “Minha avó é uma pessoa maravilhosa e super humilde. Já até dividiu o cachê dela com os músicos, porque eles ganhavam pouco. Até há pouco tempo, quando ela estava bem, pegava ônibus normalmente. Tudo o que eu sei hoje, aprendi com ela”, disse o músico.
Considerada pioneira como compositora de sambas enredo, Dona Ivone compôs o primeiro samba, Tiê, com apenas 12 anos. As composições tiveram início na década de 1940, mas os primeiros sambas enredo chegaram a ser assinados por um primo para driblar o machismo das agremiações.
O cantor e compositor Marquinhos de Oswaldo Cruz classificou Dona Ivone Lara como uma das maiores compositoras do país, no nível de Cartola e Pixinguinha. “Eu falava isso sempre com ela. Eu a achava melhor até do que a Chiquinha Gonzaga. Essa região de Madureira [antigamente] era uma região de roça e tem muito do rural nas músicas dela. Ela conseguiu ser pra mim a maior compositora da história do país, e sem perder essa essência do morro, porque ela não deixava de fazer [samba de] partido alto”.
A sambista morreu na noite passada, devido a um quadro de anemia que se agravou com insuficiência cardiorrespiratória. Dona Ivone permanecia internada desde a última sexta-feira, data em que completou 97 anos, no Centro de Tratamento e Terapia Intensiva da Coordenação de Emergência Regional, no Leblon, zona Sul da cidade. O sepultamento ocorreu às 16h30min no Cemitério de Inhaúma, na zona Norte.
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, decretou luto de três dias na cidade. Já o presidente Michel Temer publicou hoje uma mensagem no Twitter afirmando que o samba perde a maior expressão.