O juiz federal Sérgio Moro participou na manhã desta terça-feira de uma palestra no Fórum da Liberdade, em Porto Alegre. Ao lado do promotor italiano Antônio Di Pietro, que comandou a Operação Mãos Limpas, na Itália, e que serviu de modelo para a Operação Lava Jato, Moro disse que a corrupção e a impunidade caminham juntas. Em um auditório lotado, com capacidade para 500 pessoas, o jurista brasileiro falou que sempre se teve a consciência de que a corrupção era grande no Brasil e que se sabia que ela era espalhada dentro das instituições.
Segundo Moro, as investigações que se multiplicaram nos últimos anos, tanto da operação Lava Jato quanto das resultantes do processo do mensalão, mostraram a corrupção de forma mais clara e o Judiciário conseguiu provas concretas para criminalizá-la.
“Nós vamos falar por exemplo dos casos julgados da Operação Lava Jato, hoje são mais de 30 casos, e ali foi constatado um quadro de corrupção sistêmica, colocando a corrupção como regra do jogo e não como um caso desviante. E a pior reação que se pode ter diante dessas revelações é uma reação conformada, no mesmo sentido da reação [conformada] em relação à hiperinflação [da década de 1990] e à pobreza extrema, de que isso é algo natural e inerente à nossa realidade e que nada pode ser feito. Pode sim! Me referindo aos casos julgados em que poderosos diretores da nossa maior estatal, empresários que burlavam as regras de mercado para conseguir contratos com a Petrobras, que pagavam sistematicamente vantagens indevidas a agentes públicos e, igualmente, agentes políticos que se beneficiavam desse esquema criminoso, várias dessas pessoas foram processadas e condenadas”, exemplificou Moro.
O jurista, que ordenou a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada, também falou das dificuldades de provar casos de corrupção. Moro criticou ainda o sistema judiciário, que, muitas vezes, não funciona, mesmo quando os crimes são provados. “Vários escândalos criminais do passado que aconteciam e nós líamos a respeito deles somente nos jornais, nós não víamos as consequências. Isso é algo que nós podemos enfrentar e reduzir. Com a redução da impunidade desses crimes, há uma expectativa de redução dos casos de corrupção. A impunidade e a corrupção disseminadas caminham juntas. Agora, não se deve ter a ilusão de que não vai ser a operação Lava Jato que vai acabar com a corrupção no Brasil. Novos casos de corrupção vão surgir”, alertou.
Para Moro, a sociedade precisa parar com o discurso de que há um golpe e de que há risco às instituições brasileiras. A democracia está consolidada no País, apesar de ser de baixa qualidade. “Embora nós vivamos num regime plenamente democrático, nossa democracia ainda é de baixa qualidade. Nós temos problemas graves, como de baixo desenvolvimento socioeconômico, como de grande desigualdade, problemas de violência e na segurança pública e nós temos um problema, que talvez seja a razão principal da minha presença aqui, que é a corrupção. Nós temos que resolver esse problema dentro dos mecanismos que são disponibilizados em uma democracia. Não existem saídas possíveis senão dentro do regime democrático. Agora isso é factível. É um grande erro nós acharmos que não conseguimos resolver nossos problemas”, avaliou.
Ao final da fala, Moro foi ovacionado pela plateia. No final da tarde desta terça-feira, ele retorna ao Fórum da Liberdade, ao lado de Antonio Di Pietro e Adriano Giaturco. Eles participam do painel “A Lei”.