Esfera Pública: Lula enaltece líderes gaúchos do passado e lamenta RS "muito conservador"

O programa Esfera Pública, da Rádio Guaíba, ouviu nesta quinta-feira o ex-presidente Lula, que está em caravana pelo Rio Grande do Sul. Em São Miguel das Missões, o petista falou, com exclusividade, aos jornalistas Juremir Machado da Silva e Taline Oppitz sobre a condenação no caso do triplex, a situação política brasileira e a possibilidade de candidatura no pleito de outubro, entre outras questões.
Desde o começo, o petista enalteceu as lideranças gaúchas que se sobressaíram em nível nacional. “Nós quisemos fazer uma homenagem a Getúlio Vargas, a (o ex-presidente João Goulart) Jango e a (Leonel de Moura) Brizola”, começou. “Quem conhece a historia sindical, dos trabalhadores, sabe que está ligada de forma umbilical a Getúlio Vargas. Estabelecer legislação trabalhista nos anos 30 praticamente foi extinguir a escravidão uma segunda vez”, ponderou. Lula também salientou que “criticou e muito” as ações de Getúlio Vargas do ponto de vista autoritário e nas semelhanças com o regime fascista italiano, mas reconheceu a importância da figura dele para a criação dos direitos dos trabalhadores.
Também comentou sobre o encontro, já em Santana do Livramento, com o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica. Lula elogiou o estadista e a postura que adotou como chefe de Estado. Sobre a visita a Bagé, ressaltou a criação da Unipampa, e acusou o Ministério Público local de ter ameaçado o reitor do campus da cidade para evitar a aproximação dele dos estudantes. Lamentou, ainda, a tentativa de manifestantes de impedir a entrada dele na cidade: “eu já protestei tantas vezes contra os outros, não posso achar ruim quando é contra mim. O que eu achei uma afronta foi as pessoas acharem que você não pode entrar numa cidade”.
Lula ainda apontou que “o ódio é uma coisa que está disseminada no País desde 2013 e principalmente depois da campanha do Aécio contra Dilma (em 2014)”, e que “nunca teve na história do País momento em que o RS recebeu mais recursos federais do que nos 12 anos do governo do PT.” O ex-presidente garantiu que “você pode pegar até o (ex-presidente Emilio Garrastazu) Médici, que era de Bagé, e ver se algum presidente colocou 10% do que eu e Dilma colocamos aqui”.
Sobre a importância dele como figura política, o petista foi enfático: “não fico analisando a minha importância política ou histórica, eu apenas me considero um cidadão que cresceu politicamente à medida que foi crescendo a consciência política dos trabalhadores brasileiros. A razão de eu fazer política é fazer com que as pessoas de baixo, as pessoas que nunca foram sujeitos da história comecem a ter mais poder, decidindo, propondo e fazendo”. O ex-presidente também lamentou que não haja mais grandes figuras políticas no País e que o fenômeno (Jair Messias) Bolsonaro deve ser levado a sério: “quem tem que cuidar do Bolsonaro são os tucanos, foi a política de ódio deles que deu origem ao Bolsonaro.”
Sobre a condenação em segunda instância pelo caso do triplex do Guarujá, Lula disparou para todos os lados: “a única coisa que eu quero desse processo é que alguma instância superior julgue o mérito do processo. Eu não posso aceitar o conjunto de mentiras que foi montado para tentar condenar o Lula. Eles não estão julgando Lula, eles estão julgando o governo de Lula e de Dilma”. Ele também garantiu que não cogita sair do Brasil: “já me disseram para sair, eu não vou sair do Brasil, eu vou ficar aqui. A caravana vai acabar em Curitiba, na ‘boca maldita'”, completou, negando que isso se trate de provocação. “Podíamos ter começado por Curitiba, mas tínhamos agenda com o Mujica, então começamos pelo Rio Grande do Sul”, justificou.
Do mesmo modo, Lula criticou o processo montado pelo juiz Sérgio Moro e a defesa feita pelo procurador Daltan Dallagnol, que coordena a força-tarefa responsável pela operação Lava Jato. “Eu estou com a tranquilidade dos inocentes, e eles estão com a intranquilidade dos culpados, porque eles sabem que montaram uma farsa pra me culpar”. Também relembrou a ocasião da condução coercitiva para prestação de depoimentos e a crença de que essas ações pioraram a situação da saúde da esposa, Marisa Letícia, falecida em 2017: “eu acho que eles ajudaram a matar a Marisa. Ela piorou, ela perdeu o prazer pela vida depois que ela viu invadirem a casa dela e dizerem que ela participava de uma quadrilha.”
Sobre relação dele com a também ex-presidente Dilma Rousseff, Lula tratou de desmentir supostos desentendimentos ou brigas. Falou ainda sobre as mulheres, e que devem ocupar mais os espaços públicos, e que uma lei de cotas não é o suficiente. “Falavam que a gente era o povo mais alegre do mundo. Cadê nossa alegria?”
O ex-presidente finalizou criticando os gaúchos do ponto de vista político: “acho que o RS hoje está muito conservador. Esse povo (gaúcho) teve acesso à educação antes do restante do País. Mas agora estou endo que tem mais ódio disseminado, ontem uns meninos tentando evitar nossa entrada em Bagé”, repetiu.
Por fim, Lula foi enérgico ao afirmar que “essa gente que tá aí não sabe governar, não sabe cuidar do Brasil, eles estão vendendo nosso País, e eu quero dizer que, se o PT quiser, eu sou candidato. Se eu puder ser candidato porque nós vamos fazer um referendo revogatório ou uma nova Constituinte para desfazer essa ‘safadeza’ que eles estão fazendo com nosso povo”, finalizou.
Ouça a entrevista, na íntegra: