As ruas do bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, amanheceram tomadas pelo lixo neste domingo, após mais um sábado em que os foliões ocuparam a região. Apesar dos blocos de carnaval terem encerrado as atividades por volta das 21h, a concentração de pessoas e a música alta que prosseguiu até as 4h30 da madrugada irritaram os moradores.
Pela região, se avistavam muitos copos plásticos, bitucas de cigarro, latas de bebidas e garrafas de vidro. Enquanto os trabalhadores da limpeza urbana não chegavam, alguns moradores e comerciantes do bairro decidiram varrer as calçadas. Um idoso, que aparentava ter mais de 80 anos e que não quis falar com a reportagem, recolhia com a vassoura e uma pá o lixo deixado pelos foliões em frente ao prédio em que mora na Rua da República.
Para quem atua na limpeza da cidade, o maior problema é recolher as garrafas quebradas, como explica a gari Roberta dos Santos, que trabalha há 20 anos para a Cootravipa (Cooperativa de Trabalhadores Autônomos das Vilas de Porto Alegre), que tem contrato com a prefeitura para executar o serviço. “Com essas garrafas, a gente pode se machucar bastante. Tem muita garrafa quebrada e isso é perigoso”, ressalta Roberta.
A principal reclamação dos moradores do bairro não é a realização do Carnaval na região, mas sim a sujeira gerada depois da festa. Para a professora Vera Lessês, a Cidade Baixa é um bairro boêmio, mas deveria ser preservado e conservado. Ela critica a falta de educação das pessoas.
“Quanto ao Carnaval eu não tenho nada contra, eu questiono o papel das famílias e da escola hoje. Quem peca muito é a família, quando não consegue ensinar os filhos a recolherem o lixo que produzem e deixar a cidade nesta situação. Sem contar o xixi na rua, que é outro caos. A gente sai para caminhar e é um fedor horrível”, reclama a educadora.
O administrador José Amorim, que mora na Rua da República, onde acontece a concentração de um dos blocos, disse que vai buscar providências contra a sujeira e os responsáveis pelo descaso. “Ontem, os organizadores distribuíram folhetos e nele estava escrito que logo depois que terminasse a festa, às 21h, eles limpariam tudo aqui. Agora são 8h35 da manhã e olha o lixo que está a nossa rua. Nós vamos tomar providências em relação a isso aqui. A situação está um caos. Não podemos continuar desse jeito. O nosso bairro que era bonito e residencial está horrível. As pessoas não querem mais morar aqui”, relata Amorim.
Segundo o diretor do Escritório de Eventos da Prefeitura de Porto Alegre, Antonio Gornatti, os blocos têm a licença para fazer o Carnaval na Cidade Baixa, das 15h às 21h. “Antes das 21h eles desligaram o som. Os problemas começam depois. O proponente do Bloco da República fez a limpeza, mas somente na área que eles ocuparam. O que acontece é que quando se faz a limpeza antes da evacuação do pessoal, quando eles voltam a ocupar a área, volta-se a criar resíduo. Os proponentes limpam e tiram fotos. É tudo documentado, mas o pessoal volta depois para frequentar bares ou ficar no meio da rua e suja de novo”, explica Gornatti.
O diretor ressalta também que a sujeira é comum nestes dias de Carnaval. “O fato de amanhecer com resíduo também está dentro do histórico desses dias porque as equipes do DMLU (Departamento Municipal de Limpeza Urbana) têm uma rota de limpeza. Eles começam num local e vão se movimentando. O mesmo acontece com o caminhão de lavagem, que tem uma rota. E, antes das 11h da manhã, o bairro já está limpo de novo”.
Neste domingo, o Carnaval volta ao bairro. A partir das 15h, os blocos Floresta Aurora e Kiridão fazem a concentração na Praça Garibaldi. O itinerário percorrerá a Rua José do Patrocínio e a dispersão ocorrerá no Largo Zumbi dos Palmares. Devido aos bloqueios, as linhas de ônibus 177 – Menino Deus e 149 – Icaraí, sentido Centro-bairro, circularão pela avenida João Pessoa. As linhas de ônibus que trafegam pela José do Patrocínio, sentido Centro-bairro, também circularão pela João Pessoa.