A Prefeitura de Porto Alegre espera divulgar o calendário do Carnaval de Rua na próxima segunda-feira. Com as sugestões da Brigada Militar de retirar a rua João Alfredo do itinerário dos foliões e definir como locais de dispersão as praças Garibaldi, Isabel, a Católica e o largo Zumbi dos Palmares, quatro dos dez blocos que pediram autorização para desfilar acabaram afetados, e o impasse persiste.
Pelo menos provisoriamente, o Carnaval de Rua de Porto Alegre deve começar no próximo dia 27, na avenida Edvaldo Pereira Paiva, com o bloco Panela do Samba. O encerramento é previsto para 18 de março, com o grupo musical Turucutá.
De acordo com o coordenador do Escritório de Eventos de Porto Alegre, Antônio Gornatti, as sugestões da BM foram acatadas pelas autoridades. “O MP e a Prefeitura acataram as decisões de não haver desfile e concentração em parte da João Alfredo”, confirmou. “Também ficou decidido que os locais de concentração e dispersão devem ser abertos para as pessoas não permanecerem no interior do bairro”, complementou.
Conforme o presidente da Liga das Entidades Burlescas da Cidade Baixa, Ian Angeli, a restrição da João Alfredo se tratou de uma imposição da BM. “Alteraram depois que encerraram a reunião com a Liga. Conversaram depois, bloco a bloco”, apontou. Segundo ele, a opção de desfilar pela avenida Aureliano de Figueiredo Pinto não interessa às agremiações. “É uma rua fria, que não interessa aos blocos”, salientou Angeli.
Ele ainda afirmou que a Liga entende que a necessidade de deslocamento, mas defende que o trajeto escolhido fique no interior do bairro. “Defendemos que seja na João Alfredo ou outro local da Cidade Baixa. A João Alfredo é histórica, com desfiles desde os anos 60. Pode ser na também José do Patrocínio ou na Lima e Silva”, argumentou.
A tendência é que o largo Zumbi dos Palmares seja o local mais utilizado para a dispersão de público. Angeli adverte, porém, que existe um termo de ajustamento de conduta que proíbe o uso do local, inclusive com risco de multa. “Vamos ter que alterar isso, os blocos não podem pagar”, pondera.
Ele também critica a proposta de concentração na praça Garibaldi. “Os foliões vão encontrar um metro de mato, não há estrutura”, sustenta.
Sobre o investimento para a realização da folia, Gornatti ressaltou que os blocos serão responsáveis pela colocação de banheiros químicos nos locais de concentração e dispersão, além da contratação de seguranças e ambulância. Eles também terão de arcar com a taxa de limpeza do DMLU.
As exigências da prefeitura também não foram bem aceitas pelas organizações. “Há grandes dúvidas sobre como vai ser cobrança”, disse o presidente da Liga das Entidades Burlescas. De acordo com ele, foram apresentadas obrigações que antes eram do Executivo. “Está em vigor ainda a lei municipal 6619/90 que garante toda estrutura paga pela Prefeitura. Como podem cobrar alguém?”, questionou. Angeli também pondera que a exigência de um banheiro a cada 400 pessoas é algo que não se exige “nem do Planeta Atlântida”.
O presidente ressaltou que os blocos vem encontrando dificuldade para levantar a verba necessária. “Alguns estão na Lei de Incentivo à Cultura. Outros são dependentes de eventos para levantar fundos”, contou. O presidente também destacou que é impossível um bloco fazer o Carnaval de Rua com menos de R$ 10 mil. “Somando tudo é impossível com menos de R$ 10 mil. Há bloco que não sabe de onde vai tirar dinheiro ainda e outros se endividando pra conseguir”, lamentou.
Além dos nove que pertencem à liga, devem desfilar pela Capital blocos independentes, blocos organizados com o apoio de produtoras culturais e os da Liga Descentralizada (esses, em outras regiões da cidade). “E vamos ter o fenômeno dos blocos piratas também”, projeta Angeli. “É uma realidade em qualquer cidade grande, como São Paulo e Rio. Blocos menores, sem trio elétrico e com uma concentração menor de público, mas sem aviso”, esclarece.
Com informações de Marco Aurélio Ruas e Ricardo Pont