Projeção da OMC para o comércio mundial de 2024 e o Brasil

Juros altos nos Estados Unidos tendem a desvalorizar a moeda brasileira

Crédito: Abicalçados

Em abril, antes do acirramento do conflito no Oriente Médio entre Irã e Israel, a Organização Mundial do Comércio (OMC) estimou um aumento no volume do comércio mundial de 2,6% em 2024, após recuo de 1,2%, em 2023, influenciado pelo fraco desempenho da Europa. A OMC chamava atenção, porém, para as incertezas que pairavam sobre o comércio mundial. O cenário desfavorável para uma negociação visando o término da guerra na Ucrânia e do conflito entre Israel e o Hamas.

Esse cenário, divulgado nesta quarta-feira, 17, pela Fundação Getulio Vargas, influenciava os preços das commodities e afetava a logística do transporte mundial, em especial no Canal do Suez. A alta probabilidade de manutenção dos juros altos nos Estados Unidos, que poderia levar a um crescimento menor da economia do país, e as dúvidas quanto ao crescimento chinês de 5% anunciado pelo governo do país. Esses dois últimos fatores com impactos na demanda mundial por importações.

Em 2023, enquanto o volume de comércio mundial recuou, o volume exportado pelo Brasil cresceu 8,6% e o das importações registrou queda de 2,2%. Seca na Argentina, problemas de safra nos Estados Unidos, recuperação da China explicaram o bom desempenho exportador do país. Para 2024, o modelo Ibre estimou em março (Boletim Macro), aumento no volume exportado de 2% e das importações de 1,2%, próximo às projeções da OMC.

CONFLITO

O que muda após o acirramento do conflito do Oriente Médio? Para o comércio exterior do Brasil, exceto se houver alastramento dos conflitos envolvendo as grandes potências, a oferta de commodities, em especial, do petróleo, poderá ser beneficiada com possível aumento de preços. Os juros altos nos Estados Unidos tendem a desvalorizar a moeda brasileira junto com fatores domésticos como a questão fiscal, entre outros. Nesse caso, pressões inflacionárias não são bem-vindas, mas para a balança comercial o efeito seria positivo.

Não há consenso quanto ao desempenho chinês para 2024. No entanto, sinais de melhora da economia chinesa têm levado a que vários especialistas e institutos comecem a acatar a projeção de 5% do governo chinês para 2024 como viável. A pauta brasileira de exportações para a China está concentrada em três produtos.

No primeiro trimestre de 2024 esses produtos explicaram 77% das exportações para a China – soja (31%); minério de ferro (23%); e petróleo (23%). Mesmo com crescimento menor, ao redor de 4%, as exportações devem desacelerar em relação ao resultado de 2023, mas as variações serão positivas e o superávit está garantido. Todas essas considerações supõem que o conflito não irá se alastrar pelo mundo.

BALANÇA

Após dois meses consecutivos de superávits recordes, o saldo da balança comercial de março de 2024, no valor de US$ 7,5 bilhões, foi inferior ao de março de 2023. No entanto, na comparação do primeiro trimestre, o superávit de US$ 19,1 bilhões em 2024 foi o maior da série histórica.

Observou-se, em março, uma desaceleração e/ou queda nos volumes de comércio. No caso das exportações, que cresceram 19,7% (janeiro) e 20,6% (fevereiro) na comparação interanual mensal entre 2023 e 2024, foi registrado recuo de 9,6%, em março. No volume importado, o comportamento foi similar: 11,2% (janeiro), 12,4% (fevereiro) e desaceleração para 1,6%, em março.

Os preços seguiram a trajetória de queda observada desde o início do ano, e caíram 5,6% para as exportações e 8,5% para as importações. Com esses resultados, o valor exportado em março, em relação a igual período de 2023, caiu 14,8%; e as importações, 7,1%.  No trimestre, porém, a variação no valor exportado é positiva (Gráfico 1).

As commodities, que explicaram 70% das exportações de março, registraram recuo de 7,7% no volume exportado e as não commodities de 14,2%, em relação a março de 2023. Os preços das commodities caíram na comparação mensal e trimestral, mas, em termos de volume, as commodities cresceram 14,4% entre o primeiro trimestre de 2023 e 2024 (Gráfico 2).

O volume e os preços importados das commodities declinaram na comparação interanual do mês de março e do primeiro trimestre de 2023 e 2024. O volume das não commodities aumentaram 10,3% entre os trimestres e 2,9% entre março de 2023 e 2024 (Gráfico 3).

Nos dois primeiros meses do ano, o crescimento de volume exportado da agropecuária e da indústria extrativa foram na ordem de dois dígitos. A comparação interanual entre 2023 e 2024 mostra aumento de 35,7% e de 39,3%, em janeiro, e de 26,9% e 58,5%, em fevereiro, para a agropecuária e a extrativa, respectivamente. Em março, o resultado mudou.

A piora no desempenho exportador em março está associado ao desempenho do setor agropecuário e da indústria extrativa. Na agropecuária a queda no volume (-5,1%) e nos preços (-20,5%), levou a uma variação negativa no valor de -20,8%, na comparação interanual de março entre 2023 e 2024. A queda foi puxada pelas exportações de soja em grão (19,3% das expoRtações totais do Brasil, em março) que recuaram 4,6 em kilo, e 23,1%, em preço, segundo a Balança

 

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