Caso João Alberto: presa fiscal que presenciou assassinato

Com isso, sobe para três o numero de prisões relacionadas ao crime

Foto: Guilherme Almeida/Correio do Povo

A Polícia Civil prendeu, na tarde de hoje, a funcionária do hipermercado Carrefour da Plínio Brasil Milano que é vista, em imagens divulgadas em redes sociais, tentando impedir a gravação do espancamento do soldador João Alberto Silveira de Freitas, morto por dois seguranças da loja na quinta-feira passada. A fiscal Adriana Alves Dutra era procurada para prestar um segundo depoimento e não havia se apresentado de forma voluntária. Com isso, sobe para três o numero de prisões relacionadas ao crime.

No fim da tarde, a juíza Cristiane Zardo, da 2ª Vara do Júri do Foro Central de Porto Alegre, decretou a prisão temporária da suspeita e deferiu a expedição de um mandado de busca e apreensão no local onde Adriana mora. “Ela está presa temporariamente, pelo prazo de 30 dias, para que possa esclarecer todas as circunstâncias do crime do qual participou”, esclareceu a delegada Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (2ªDPHPP). O entendimento da investigação é de que ela deve responder pelo mesmo crime imputado aos agressores: homicídio doloso triplamente qualificado.

Da primeira vez que depôs à Polícia, a mulher garantiu que pediu para os seguranças pararem as agressões. Nas cenas do momento do crime, porém, ela aparece ameaçando pessoas com a câmera do celular ligada. Em uma coletiva de imprensa no fim da tarde desta terça, a Polícia justificou a prisão dizendo que a fiscal tinha poder de comando sobre os seguranças e que a atuação dela se tornou determinante para a morte do soldador. “O Departamento de Homicídios entende, a partir das imagens que foram captadas e dos testemunhos colhidos, que Adriana tinha sim o poder, naquele momento, de cessar as agressões, a partir do fato de ser ali superior imediata dos indivíduos que exerciam a segurança”, completou a delegada.

Termina na sexta-feira, em tese, o prazo de conclusão do inquérito. “Beto”, de 40 anos, morreu supostamente asfixiado na saída loja do bairro Passo da Areia na véspera do Dia da Consciência Negra. Protestos em todo o país se seguiram ao assassinato, pedindo justiça e o fim do racismo.

“O prazo é de dez dias, mas se pode pedir prorrogação por mais 15. Se a delegada não conseguir concluir… ela vai pedir prorrogação”, esclareceu mais cedo a diretora do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), delegada Vanessa Pitrez, à reportagem do Correio do Povo.

A delegada Roberta Bertoldo trabalha, durante toda a semana, na tomada de depoimentos de cerca de 20 pessoas consideradas testemunhas e na análise de novas imagens de câmeras de monitoramento. A policial também aguarda os laudos do Instituto-Geral de Perícias (IGP).

Ouvidos quando da prisão em flagrante, os dois seguranças devem ser novamente interrogados ao fim do inquérito.

Motivação

A delegada Vanessa Pitrez destacou também que um dos objetivos do trabalho investigativo é “buscar a motivação da morte” da vítima. Os policiais civis pretendem dirimir a dúvida se o crime ocorreu ou não por motivação racial. Ela enfatizou ainda que João Alberto Silveira Freitas “figura como vítima” e que “o passado dele não importa para a investigação”.

Um outro funcionário, também investigado, já depôs. “A conduta dessas duas outras pessoas ainda está sendo apurada para ver se tiveram ou não responsabilidade”, explicou a delegada Vanessa. O inquérito avalia ainda se houve omissão de socorro e falso testemunho. O teor da suposta discussão ocorrida antes, envolvendo a vítima e funcionários do hipermercado, permanece ainda uma incógnita.

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