
O Indicador de Inadimplência da CDL Porto Alegre, elaborado pelo Núcleo Econômico a partir da base de dados da Equifax | Boa Vista, revelou novas máximas históricas em outubro de 2025. Entre as pessoas físicas, a taxa atingiu 35,79% no Rio Grande do Sul e 36,58% em Porto Alegre, o maior nível desde o início da série histórica, em fevereiro de 2022. No comparativo com setembro, houve elevação de 0,38 e 0,15 ponto percentual, respectivamente. As estatísticas equivalem a 3,07 milhões de CPFs negativados no Estado e 393 mil na Capital.
De acordo com o economista-chefe da CDL POA, Oscar Frank, o avanço vem ocorrendo de forma praticamente ininterrupta há mais de um ano: “A última queda expressiva foi registrada entre maio e junho de 2024, quando parte dos recursos emergenciais das enchentes foi destinada à quitação de dívidas. Desde então, a trajetória da inadimplência é claramente ascendente. Além disso, o ritmo do crescimento em comparação com o mesmo período do ano anterior também é inédito, atingindo dois dígitos. Portanto, o quadro é delicado”, explica Frank.
O economista destaca que o uso dos auxílios e o término do adiantamento de pagamentos do governo e das carências concedidas para impostos e contas básicas em função da catástrofe climática, a manutenção da Taxa Selic em 15% ao ano e a inflação ainda elevada — de 4,68% no Brasil e 4,59% na Região Metropolitana de Porto Alegre no acumulado dos últimos 12 meses até outubro — ampliaram a pressão sobre o orçamento das famílias.
Segundo Frank, há outros aspectos a serem considerados no cenário: “Itens essenciais, como alimentos e bebidas, continuam puxando os preços para cima. Ademais, o aumento das apostas online e o uso desorganizado do crédito consignado privado agravam o desequilíbrio financeiro dos lares. No entanto, o mercado de trabalho aquecido e os estímulos federais ao consumo têm evitado uma deterioração mais severa do quadro”, observa.
Inadimplência nas empresas
Entre as empresas, o Indicador de Inadimplência Pessoa Jurídica também renovou recordes, com taxas de 16,72% no Rio Grande do Sul e 17,48% em Porto Alegre, o quarto avanço consecutivo em ambos os casos. Segundo o cruzamento das informações com o Mapa das Empresas, a estimativa é de 263,4 mil CNPJs negativados no Estado e 44,6 mil na Capital.
“As enchentes de maio de 2024 e as estiagens recorrentes desde 2020 colocaram os empreendedores em situação delicada. Enquanto o PIB nacional cresceu 13% desde o fim de 2019, o do Rio Grande do Sul subiu apenas 4,5% no acumulado até o segundo trimestre de 2025. Fatores externos, como a sobretaxa de 50% dos Estados Unidos, e internos, como paralisações em grandes companhias — a exemplo da REFAP e da GM —, também contribuíram para o enfraquecimento da atividade econômica local”, avalia Frank.
Com expectativa de início do ciclo de redução da Selic em janeiro de 2026, Frank pondera que a melhora nos indicadores deve ocorrer apenas no médio prazo: “A política monetária tem efeito retardado sobre a inadimplência. Logo, a reversão do crescimento não será imediata”, conclui.