O Serviço Geológico do Brasil (SGB) confirmou nesta terça-feira que a enchente de maio foi a mais severa já registrada em Porto Alegre. Com uma marca 45 cm superior a enchente de 1941, o nível de água atingiu 512 cm no portão da Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH), onde está a placa daquela inundação.
A maior marca registrada foi na Estação Cais Mauá C6, próximo a rodoviária, com 537 cm. A estação Usina do Gasômetro registrou 459 cm. Nos 2.500 metros entre os pontos C6 e a Usina do Gasômetro, o nível máximo da enchente de maio de 2024 apresentou uma variação total de 78 cm.
Os engenheiros explicaram que as variações existem porque o nível do Guaíba não é linear em toda a extensão. Para comparação da série histórica, o referencial é a cota de 5,37 m, registrado na estação operada pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA-RS), a Estação Cais Mauá C6.
Os dados estão no estudo “Avaliação indireta do nível máximo do Guaíba na região central de Porto Alegre entre as estações Cais Mauá C6 e Usina do Gasômetro”, realizado em parceria com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e apoio do Exército Brasileiro.
Durante a enchente, a Estação Cais Mauá C6, operada pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA-RS) foi danificada, inviabilizando a coleta e transmissão de dados de níveis em tempo real. O SGB em apoio à SEMA-RS instalou um conjunto de réguas de apoio que, posteriormente passou a integrar a Estação Usina do Gasômetro. O chefe da Superintendência Regional de Porto Alegre Franco Buffon ressaltou que até as águas baixarem, o monitoramento foi feito manualmente, com leituras constantes.
O pesquisador Emanuel Duarte Silva, chefe da Divisão de Hidrologia Aplicada (DIHAPI), explicou que foi utilizada a técnica de nivelamento geométrico, que consiste em nivelar os pontos estratégicos em um mesmo marco altimétrico de referência. Neste caso, foi escolhido o marco do Exército Brasileiro, localizado no armazém A7, na Praça da Harmonia. Também foram realizados levantamentos das marcas de cheias em paredes, vidraças e demais estruturas. Esse trabalho de campo foi realizado entre os dias 29 de maio, 5 e 6 de junho de 2024, sendo complementado nos dias 17 de julho e 2 de agosto.
Silva ressaltou que a função institucional do SGB foi realizada e disseminada, agora cabe as articulações com diferentes entes como governo e ministério para que essa informação seja aplicada para a segurança e gestão hídrica. Ele sublinhou que a intenção futura é expandir esses sistemas de monitoramento, que atualmente estão na bacia do Cai, Taquari e Uruguai, para outras regiões como a bacia do rio Jacui, que engloba Porto Alegre, e áreas da região do alto Uruguai que se estende até Santa Catarina.
A chefe do departamento de hidrologia, Andrea Germano observou que a definição das cotas máximas no Guaíba é fundamental para compreender a cheia histórica e apoiar projetos de estruturas de proteção, que contribuam para a prevenção de desastres na cidade. “Os dados podem ajudar a dimensionar obras hidráulicas, apoiando os cálculos sobre o tempo de retorno de eventos similares e contribuindo para a adoção de melhores práticas na prevenção e mitigação de eventos hidrológicos extremos”.
A engenheira também destacou que no balanço de 2023 foi identificado um valor de R$ 450 milhões de reais em prejuízos potencialmente evitados, com o monitoramento e divulgação dos dados das bacias dos rios Cai e Uruguai.