Técnicos do governo da Holanda sugerem segundo muro da Mauá para conter enchentes em Porto Alegre

Documento oficialmente ainda não foi divulgado, mas ideia apurada pelo Correio do Povo prevê construção com quatro metros de largura, mais sacos de areia em caso de emergência

Foto: Fabiano do Amaral/CP

O segundo dia da Conferência de Cocriação e Compartilhamento de Conhecimento Brasil – Países Baixos, nesta quarta-feira, no Centro Cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), contou com novas rodadas de discussões entre autoridades gaúchas e holandesas, a fim de discutir soluções para evitar novas cheias do delta metropolitano do Rio Jacuí. Ao final do encontro, nesta quinta, devem surgir sugestões ao governo gaúcho, da mesma forma como foi feito especificamente com Porto Alegre. Tanto a vinda da comitiva quanto todos os estudos foram pagos pelo governo da Holanda; portanto, com custo zero para os cofres públicos brasileiros.

O documento relativo à Capital foi encaminhado ao Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), e segue em revisão, mas o Correio do Povo apurou ao menos uma das sugestões trazidas pelos europeus: um muro entre o Guaíba e os armazéns do Cais Mauá com até quatro metros de largura, e altura compatível com a proposta turística do local, de modo que não bloqueie a vista da água. Sacos de areia também seriam colocados acima do mesmo, e seriam realocados conforme a emergência do momento.

Iniciativas assim já existem na própria Holanda e foram replicadas em vários países, como, por exemplo, na Tailândia, no Sudeste Asiático, onde, em 2011, houve uma enchente maior do que a enfrentada em 2024 em Porto Alegre. Lá, a estratégia de contenção sugerida pela representação holandesa e de fato implementada, foi usar a areia em uma barreira temporária de dez quilômetros de extensão, construída em apenas uma semana. Em Porto Alegre, de maneira geral, portanto, a areia não permaneceria permanentemente no novo muro, mas sim os sacos poderiam ser retirados para permitir, inclusive, o trânsito de pessoas sobre a estrutura.

“O que estamos dizendo aqui não deve ser levado como decisão, mas sim sugestões técnicas que deveriam ser avaliadas no contexto pelas autoridades daqui”, disse o conselheiro institucional da Agência Empresarial Holandesa (RVO), Ben Lamoree, que está na Capital pela segunda vez. A primeira foi em junho, quando o relatório foi construído, embora dentro do contexto de crise. Para os holandeses, há viabilidade para isto. “Ficamos surpreendidos com a declaração de que seria inviável”, comentou ele, acrescentando que, na nação europeia, o monitoramento dos rios começa muitos quilômetros antes da área de enchente.

A ideia é que isto possa ser aplicado no delta do Jacuí, inclusive com dados quanto à velocidade e vazão da água no caminho a Porto Alegre. Mas é essencial planejamento, principalmente logístico, entre todos os envolvidos, disseram. Para isto, ressaltaram, os veículos que pudessem transportá-lo, a areia em si ou ambos ficassem os mais próximos possíveis da estrutura, embora não seja a regra, contanto que inclusive os fornecedores do material estejam alinhados com a situação. “A Holanda tem estado no mundo inteiro, com expertise global neste tipo de demanda. Nós já sugerimos coisas que deram certo, os países já fizeram coisas que a gente não sugeriu, e também deu certo. E a gente está trazendo isso pra Porto Alegre pra mostrar que podemos fazer isso”, destacou Adri Verweij, técnico do programa Redução de Risco de Desastres (DRRS, na sigla em inglês), que ajudou na elaboração do relatório.