Hacker se cala e não responde oposição na CPMI do 8 de Janeiro

Walter Delgatti Neto presta depoimento desde a manhã desta quinta

Foto: Marcos Oliveira / Agência Senado / Divulgação

O hacker Walter Delgatti Neto, que presta depoimento desde a manhã desta quinta à CPMI do 8 de Janeiro, decidiu usar o direito de silêncio e não respondeu aos questionamentos de parlamentares da oposição, entre eles Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O depoimento de Delgatti repercutiu entre os senadores. Para os governistas, as acusações do hacker envolvem diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro em um plano para fraudar o sistema eleitoral. A oposição, por outro lado, lança dúvidas sobre a credibilidade do depoente.

Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), o depoimento de Delgatti comprova “que houve uma tentativa e foram efetivados vários golpes no Brasil”. “Estamos diante de uma prática que não vai cessar, diante de um campo político que não acredita na democracia, que a usa como meio. Tudo o que vimos aqui foi a tentativa de burlar os regramentos democráticos”, disse.

Na opinião do senador Fabiano Contarato, o ex-presidente Jair Bolsonaro deve responder por dois crimes previstos no Código Penal: tentar abolir o Estado democrático brasileiro e tentar depor um governo legitimamente constituído. “O presidente mantém contato com uma pessoa para fraudar a eleição. Não satisfeito, a recebe no Palácio do Alvorada por duas horas para burlar o sistema eleitoral. Isso é gravíssimo. O presidente é coautor desses crimes. As provas são contundentes. Houve a digital direta do presidente Bolsonaro para esse atentado que aconteceu no dia 8 de janeiro”, afirmou.

Já o senador Sergio Moro (União-PR) desqualificou o depoimento de Walter Delgatti Neto. Segundo o parlamentar, o hacker responde ou respondeu a 46 processos, sendo condenado por estelionato contra clientes de um banco. “Existem problemas de credibilidade da testemunha, que praticou estelionato em série. Qual o cerne do estelionato? A fraude, a falsidade, a mentira contumaz. E aqui chega o depoente contando as suas versões. Vejo colegas tomando a palavra dele como se fosse absoluta, quando a gente está aqui diante de um estelionatário profissional condenado”, disse.

A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) reforçou a crítica. Para ela, o depoente “não tem credibilidade nenhuma”. “Por você ter problemas, sua palavra está em dúvida aqui. É a sua palavra contra a palavra de um presidente da República. Vocês se encontraram? Se encontraram. Mas como você vai provar que ele te pediu tudo aquilo? Mais uma vez, quem sai prejudicado dessa grande história é você. Você não tem como provar. É a palavra do Walter contra a de outra pessoa. Você está prejudicado” disse Damares, diretamente a Delgatti.

Por outro lado, a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) defendeu a legitimidade do depoimento: “Se a pessoa cometeu um crime, isso não está sendo objeto de investigação. O que está sendo investigado aqui é a tentativa de golpe de estado. E, para esse desiderato, o senhor (Walter Delgatti Neto) é, sim, uma testemunha valiosa para nós”, afirmou.

Durante o depoimento, o hacker admitiu ter feito tentativas de invadir o sistema das urnas eletrônicas, mantido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Questionado pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), porém, ele disse que jamais conseguiu. “O senhor está dizendo o que sempre dissemos: o sistema eleitoral brasileiro é confiável. No Brasil de tantos problemas, num período sensível, o presidente da República se vale de sua condição para contratar uma pessoa a fim de tentar mostrar a fragilidade do sistema eleitoral. É de uma gravidade gigantesca”, criticou Veneziano, em referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Delgatti não respondeu aos questionamentos de Flávio Bolsonaro. O parlamentar negou ter havido um plano para fraudar o sistema eleitoral e classificou as declarações do hacker como “completamente desqualificadas e sem nenhuma possibilidade de credito”: “Não foi para fazer invasão em sistema eleitoral nenhum. Foi na verdade uma sondagem para que ele (Delgatti), junto com aquele grupo das Forças Armadas que estava legalmente junto ao TSE para fazer testes em urnas, pudesse mostrar ao TSE possíveis vulnerabilidade das urnas. Essa narrativa de que ele foi contratado para fraudar as eleições é uma mentira”, disse.