A Polícia Federal pediu ajuda ao FBI, dos Estados Unidos, para encontrar um relógio da marca Patek Philippe supostamente recebido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de autoridades do Bahrein. A corporação suspeita que a peça tenha sido desviada diretamente para o acervo pessoal de Bolsonaro assim que chegou às mãos do ex-presidente, em novembro de 2021, sem o registro do então Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) da Presidência da República — procedimento obrigatório.
O relatório da PF aponta a possível venda do item, em junho de 2022, à loja Precision Watches, especializada em relógios de luxo. Segundo a corporação, na consulta aos documentos referentes ao acervo privado do ex-presidente, não há registro do relógio. “O fato indica a possibilidade de o referido bem nem sequer ter passado pelo então Gabinete Adjunto de Documentação Histórica [hoje DDH] para a realização do tratamento e classificação do bem”, cita o relatório.
A PF alega que o registro fundamenta a definição do destino do bem: se ao acervo público ou ao acervo privado do presidente. A investigação não especificou o valor do relógio, segundo a corporação, porque “até o presente momento, o Estado brasileiro não tinha ciência de sua existência”.
A corporação também menciona que há um registro de pagamento realizado a Mauro Cid pela Precision Watches, no valor de R$ 346.983,60 – quantia que, supostamente, se refere à venda do relógio Patek Philippe e de um relógio Rolex.
Segundo a PF, em 14 de março deste ano o advogado Frederick Wassef, que já defendeu a família Bolsonaro, recuperou o Rolex ao recomprar o objeto.
A loja Precision Watches aparece em outros trechos da investigação. No site da empresa, há a informação de que ela fica localizada no Willow Grove Park Mall, na Pensilvânia, nos Estados Unidos. No catálogo, há relógios de até R$ 240 mil.
Entenda a operação
A Polícia Federal cumpriu nesta sexta-feira quatro mandados de busca e apreensão em uma operação de combate a crimes de peculato e lavagem de dinheiro ligados ao caso das joias recebidas de Estados estrangeiros pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
A PF aponta indícios de uso da “estrutura do Estado brasileiro para desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado, por meio da venda desses itens no exterior”.
As quantias obtidas com essas operações “ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados por meio de pessoas interpostas e sem usar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, a localização e a propriedade dos valores”, indica o relatório. A Polícia Federal não informou o lucro supostamente obtido com a venda das joias e dos presentes.