A decisão de manter o alvo da inflação de 3% em 2026 e adotar a meta contínua a partir de 2025 não tende a interferir na trajetória de queda da taxa básica de juros da economia nacional. As apostas são de que, independentemente do veredito anunciado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), o primeiro corte da taxa Selic acontecerá no mês de agosto.
A mudança anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, permitirá à autoridade monetária escolher um prazo determinado para perseguir a meta de inflação. Atualmente, os objetivos são anuais e não foram cumpridos nos últimos dois anos.
Na tentativa de impedir que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) fure o teto da meta pelo terceiro ano consecutivo, o Copom (Comitê de Política Monetária) mantém, desde agosto do ano passado, a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, o maior patamar desde 2017.
Na ata da última reunião, divulgada na última terça-feira (27), o BC deu os primeiros indícios de que a primeira queda dos juros em um ano pode acontecer em agosto, como estima o mercado financeiro. “A continuação do processo deflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”, diz o documento.
André Meirelles, diretor de alocação e distribuição da InvestSmart XP, afirma que o sistema contínuo de metas de inflação já era esperado pelo mercado e não deve alterar as expectativas de corte dos juros. “O movimento de corte da Selic está mais relacionado com os dados a serem divulgados de inflação, nível de atividade econômica e todas as suas derivadas e, principalmente, se a expectativa futura para inflação estará convergindo para meta ou não”, explica.
A posição de Meirelles é a mesma partilhada por Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed. Para ele, no entanto, a adoção da meta contínua é mais um dos elementos que vão contribuir para o corte da taxa básica de juros no mês de agosto. “Essa decisão ajuda a ancorar as expectativas de médio e longo prazo, o que favorece uma política monetária menos restritiva”, avalia.
“Existe um cenário macroeconômico que favorece o início do corte de juros. A decisão do Conselho Monetário é apenas mais um ponto importante a ser avaliado, porém, não é determinante. […] A decisão sozinha não é um fator crítico para a tomada de decisão, mas é um ponto de apoio que ajuda o Banco Central no ciclo de queda dos juros”, observa Jorge.