A chuva de sábado causou estragos em diferentes localidades do Rio Grande do Sul. Conforme relatos da Defesa Civil Estadual, Camaquã, na Costa Doce, teve alagamentos em duas ruas do município, enquanto Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, teve também registro de queda de árvores e danos em veículos. No município, o Corpo de Bombeiros trabalhou durante o sábado e domingo para desobstruir vias afetadas. Em Estância Velha, ruas e casas ficaram alagadas, mas sem desabrigados ou desalojados.
Na manhã de hoje, uma rocha caiu sobre a pista na altura do quilômetro 84, da ERS 020, em São Francisco de Paula, na Serra. O local foi sinalizado e equipes da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) e Grupo Rodoviário de Gramado, do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) acionados. Uma pista foi isolada e a estrada foi liberada por volta das 11h15min. Os estragos maiores, porém, foram registrados no Vale do Caí. Em Harmonia, choveu 156 milímetros em 30 minutos, segundo o secretário municipal de Agricultura, Antônio Kunzler.
Foi a terceira ocorrência climática em menos de um mês que devastou o município de menos de 5 mil habitantes. No dia 28 de janeiro, mais de 300 casas foram danificadas por um vendaval. Em 25 de fevereiro, vento e chuva fortes destelharam casas, derrubaram árvores, postes e telhados. Já no sábado, foi a força das águas que assombrou os moradores. “Conversei com pessoas de idade, e eles nunca tinham visto tamanha destruição em tão pouco tempo. Nunca havia acontecido algo assim”, afirmou o secretário. Pessoas foram encaminhadas às casas de parentes.
No interior de Harmonia, plantações foram destruídas. Na área central, o volume de chuvas fez subir rapidamente o arroio Harmonia a cerca de 70 centímetros de altura, atingindo o Centro de Referência de Assistência Social (Cras), a praça central, Emater, posto de saúde, casas, e até estabelecimentos comerciais e agências bancárias. “Foi um fenômeno fora do comum. Houve muitas perdas e danos materiais, inestimáveis no momento”, relatou ele. Hoje mesmo, a água já havia escoado rumo ao rio Caí, e iniciou um mutirão de limpeza que envolveu todo o município.
Todos os funcionários da Secretaria Municipal de Obras e Administração foram convocados para auxiliar os moradores a reerguer os locais atingidos. “Destruiu boa parte das pontes, arrebentou o asfalto, rompeu bueiros. Mas vamos reconstruir tudo. O povo aqui é muito unido”, disse Kunzler. Em São Sebastião do Caí, município vizinho, a chuva iniciou por volta das 17h30min de sábado, e o registro foi de 111 milímetros, apontou Enio dos Santos, coordenador da Defesa Civil Municipal. “A água subiu na altura do joelho”, afirmou ele.
As áreas mais atingidas foram os bairros Loteamento Popular e o Centro, que teve “ruas intransitáveis” por alguns momentos, salientou ele. “Distribuímos lonas em algumas residências devido à situação atípica. Algumas delas tiveram prejuízos em móveis, roupas, colchões. Ficou apenas o rastro da sujeira. Recebemos relatos de que em cinco minutos, já havia 30 centímetros de água dentro da casa”, disse Santos.
Não houve desabrigados ou desalojados na cidade. A régua de medição do Caí na barca do rio, em São Sebastião do Caí, que havia registrado 1,63 metro às 9h de sábado, pulou para 3,37 metros na madrugada de hoje, ou seja, mais que dobrou em menos de 24 horas. Também houve registro de danos em Maratá e Montenegro, onde a régua da estação pluviométrica do Passo Montenegro subiu de 56 centímetros na tarde de sábado para 1,41 metro na manhã do domingo.
O presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Caí, o biólogo Rafael José Altenhofen, afirma que as mudanças climáticas têm afetado as populações da região, e é preciso que os órgãos públicos se atentem cada vez mais a isto. “Antes, convivíamos com períodos de chuva muito bem distribuídas. Mas o próprio Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) já previa que o principal efeito destas alterações no clima seria a grande concentração de precipitações, alternadas com períodos secos. Por isso, é preciso preparação”, disse Altenhofen.