Há dez floristas instalados de maneira provisória no Largo Glênio Peres, um dos pontos de maior movimento do Centro Histórico de Porto Alegre, e que para ali foram realocados a partir das obras na rua Otávio Rocha, como parte do pacote de melhorias do Quadrilátero Central. No entanto, o que eram para ser estruturas temporárias que deveriam ficar apenas três meses no local, se tornaram meio ano, e o tempo segue correndo. Tal situação gera preocupação e frustração à maioria dos comerciantes, além da estética improvisada, que gera impactos negativos na circulação de pessoas.
Entre as reclamações, eles, que pagaram por todo o material das bancas de madeira, afirmam que poderiam tê-las feito com mais infraestrutura, se soubessem que a liberação atrasaria tanto. Carlos Humberto é um deles. Florista de terceira geração, ele exibe uma nota fiscal com o exato valor de R$ 5.120, pago pela estrutura de 2×2 metros. “A Prefeitura não tem a mínima responsabilidade conosco aqui. A Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smoi) prometeu resolver nossa situação, mas até agora, nada. Só dizem que fazem, mas não fazem”, comenta ele.
No dia 19 de dezembro, quatro dias depois de uma reunião dos floristas com a Smoi, Humberto disse ter enviado mensagem à pasta cobrando providências. A secretaria respondeu apenas no dia 22, apenas com um pedido de desculpas. “Os problemas aqui são dois: a segurança, que não é suficiente, e o calor infernal”, pontua. Ainda conforme ele, nesta reunião, a Smoi teria prometido a instalação de uma cobertura na área das barracas temporárias.
A água é puxada de uma torneira de trás do Chalé da Praça XV, enquanto a energia elétrica vem de um poste próximo, cuja rede foi ligada pela CEEE Grupo Equatorial. Porém, os telhados são outro problema relatado pelos vendedores de flores, buquês e arranjos. Algumas delas estão com telhas de zinco, enquanto outras improvisaram guarda-sóis. “À tarde, o calorão é sempre pior, bem difícil de aguentar. Gasto fardos de água para beber”, argumenta Humberto.
Há outros que estão mais conformados, como Vanessa da Silva Alves, que atua com comercialização de flores há 20 anos. “No início, estava ruim, mas agora, já conseguimos equilibrar as contas. É preciso ter vontade de estar aqui, se não, não trabalhamos”, afirma ela. De acordo com ela, logo no início, os fiscais da Prefeitura não sabiam da mudança e teriam tentado autuar os floristas, porém eles já haviam recebido os alvarás provisórios.
No começo, havia 16 comerciantes, mas três faleceram e outros três optaram por trabalhar de casa. Os floristas foram instalados na área em 6 de junho de 2022, poucos dias antes do Dia dos Namorados, data crucial para vendas do segmento. Uma semana mais tarde, iniciaram os trabalhos do Quadrilátero Central, via que ainda não está liberada. No dia 20 de junho, a Smoi apresentou aos floristas e revisteiros o primeiro projeto das novas bancas, mas eles solicitaram modificações, novamente apresentadas em setembro.
O que diz a Smoi
O secretário André Flores, titular da Smoi, afirma que o atraso na execução dos trabalhos decorreu justamente devido à adequação do projeto das novas bancas. Conforme ele, a secretaria propôs que os comerciantes já retornassem provisoriamente à Otávio Rocha, mas eles recusaram. “Encomendamos todas as bancas da empresa e devemos instalar a primeira em fevereiro. Ainda não há data do recebimento delas. A partir da instalação de uma delas, teremos uma ideia de como adaptaremos as demais”, comentou ele, prevendo que a instalação de uma unidade deve ocorrer até por volta do dia 15.
Flores reconhece que pode ter havido falhas da Smoi no prazo de resposta aos floristas, e que, “nos próximos dias”, as telhas deverão ser colocadas nas atuais bancas no Glênio Peres. “Não vamos nos eximir da responsabilidade. Vamos verificar o que aconteceu. Mas houve este prazo a mais por conta da adaptação ao projeto solicitado por eles [floristas]. Cada mudança causa um pouco de atraso”, pontuou o secretário, relatando ainda que a Smoi não tinha estes materiais em estoque.