De filho para pai: Carlos Nejar é o novo patrono da Feira do Livro

Com mais de 100 obras publicadas e 60 anos de carreira, gaúcho Carlos Nejar teve o nome anunciado pelo filho em evento nessa manhã

Foto: Ana Carolina Aguiar / Rádio Guaíba

A Câmara Rio-Grandense do Livro divulgou, na manhã desta segunda-feira, que o poeta e escritor gaúcho Carlos Nejar vai ser o patrono da 68ª edição da Feira do Livro. Em uma cerimônia emocionante, Fabrício Capinejar, homenageado da festa literária no ano passado, anunciou que o pai vai ocupar o mesmo posto, neste ano. Literalmente de queixo caído e com lágrimas nos olhos, Carpinejar ficou sem palavras ao receber das mãos do presidente da Câmara, Maximiliano Ledur, o nome do escolhido pelos patronos anteriores. “Tenho o prazer de dividir meu pai com Porto Alegre, pois ele não é um procurador de Justiça aposentado, mas um procurador de almas”, declarou.

Com 83 anos, o Imortal da Academia Brasileira de Letras humildemente disse que o reconhecimento chegou no “tempo certo”. “Eu me sinto pequeno com esse momento. Meu filho até disse que eu merecia essa homenagem antes, mas tudo chega ao seu tempo. Hoje eu estou suficientemente maduro, madureza em todos os sentidos. Estou em um novo tempo, em uma nova idade. Poucos revelam, mas é um período de infância. Um palavra ancestral e que, quando nos encontra, nos transforma”, confidenciou o poeta. “Se a homenagem chegasse antes, eu não teria a humildade para recebê-la. Eu não teria a alegria que hoje me veio. O que vem no seu tempo, chega bem e nós recolhemos com gratidão. Eu recolho com gratidão, uma que não envelhece. Nós até podemos envelhecer, mas o espirito não. Tal como a poesia, a literatura”, celebrou.

Fabrício Capinejar garantiu que esse “é um milagre que só a Feira do Livro proporciona”. “Eu até prometi que não iria chorar, mas eu acho que nós choramos pouco, muito pouco. Como disse meu pai, a literatura é isso. É libertar almas, exorcizar fantasmas que vivem na mente”, afirmou, após o discurso do pai.

Se depender do novo patrono, muitos fantasmas ainda devem ser exorcizados. “Eu ainda tenho muitos livros guardados na minha gaveta. O que vou fazer? Eu preciso me libertar desses fantasmas, que vivem ali. Isso porque cada um deles é novo, precisa ser inovador e ganhar o mundo. Eles são fortes por natureza, nas suas histórias que precisam encontrar seus leitores. Eu estou nessa terra por causa deles e eles estarão graças a mim”, finalizou Carlos Nejar.

O novo patrono teve o primeiro livro, “Sélesis”, publicado em 1960. Os trabalhos mais recentes foram “Senhora Nuvem” (Life Editora) e “A República do Pampa” (Casa Brasileira de Livros), ambos publicados neste ano. Apesar de morar no Rio de Janeiro, o poeta segue apaixonado pelo Rio Grande do Sul. “O vento minuano me segue. Mesmo na minha cobertura no bairro do Flamengo, ele sopra e me sussurra suas histórias”, confessou.

O presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), Maximiliano Ledur, que após um hiato de 20 anos assume o cargo do pai, Paulo Flávio Ledur, no comando da entidade, garante que o nome de Carlos Nejar sempre apareceu entre as indicações dos patronos anteriores da feira, mas agora encontrou consenso.

O evento deste ano volta à “normalidade”, em tamanho e investimento. As bancas retornarão ao centro da Praça da Alfândega e também à Rua da Praia, ocupando um espaço físico maior que o de 2021.

“A programação também será maior e irá abranger os mais diversos públicos. Como é um desejo do nosso patrono, queremos trazer mais atrações para as crianças, pois é onde se desperta o leitor ávido”, garantiu Ledur.

A 68ª Feira do Livro de Porto Alegre ocorre presencialmente entre 28 de outubro e 15 de novembro.