Kiss: advogados defendem que réus não agiram com intenção

Representantes dos acusados tentaram rebater teses de superlotação e questões de segurança da boate, que pegou fogo em 2013, matando 242 pessoas em Santa Maria

Foto: Ricardo Giusti/CP

A etapa de debates reservada às defesas dos quatro réus pelas mortes de 242 pessoas na boate Kiss, que pegou fogo em Santa Maria, em 2013, teve início às 20h23min desta quinta-feira, no nono dia de julgamento da tragédia, no Foro Central de Porto Alegre. Com a mediação do juiz Orlando Faccini Neto, os quatro advogados tiveram 37 minutos e 30 segundos, cada, para defender e sustentar a tese de que os clientes não agiram com intenção, que o incêndio se tratou de um acidente e que os próprios réus foram expostos ao perigo de vida.

Os primeiros a se pronunciar foram os advogados Jader Marques, defensor do réu Elissandro Sphor, e Tatiana Borsa, que representa o réu Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda Gurizada Fandangueira.

O debate, então, teve prosseguimento com os advogados Mário Cipriani e Bruno Seligman Meneses, defensores do réu Mauro Hoffmann, que era sócio da boate Kiss. “Essa acusação não se sustenta juridicamente. Hoje o acusado é o Mauro, sem prova nenhuma. Os quatro réus têm alguma responsabilidade, mas o que aconteceu naquela noite foi um acidente, uma sucessão de pequenas falhas que resultaram em algo dramático e não imaginado”, afirmou Cipriani, no início da manifestação. O advogado lembrou que Mauro confiou nos órgãos públicos e que não se discute que era sócio da casa noturna. “Ele era efetivamente, mas qual foi a conduta criminosa dele?”, questionou o advogado. “O Ministério Público não me deu isso”, disse Cipriano, que contestou, ainda, a versão de que a boate operou superlotada e que foram 636 os sobreviventes. “Se criou uma sucessão de inverdades. Esse número é superficial para fazer a linha de nexo causal com a superlotação”, afirmou Cipriani.

Já o advogado Bruno Seligman Meneses afirmou que também cabe responsabilizar o Ministério Público. Ele destacou que Mauro Hoffmann não esteve na boate no dia do incêndio e não participou da festa. “Não tinha condição de saber o que acontecia naquela noite”, disse Seligman, lembrando que o “MP demonstra um nervosismo, uma perturbação que é sintomática”. O advogado destacou ainda que o conceito de dolo eventual “é conhecer o risco e estar indiferente a ele.” O advogado disse, também, que a acusação aos réus não é pelo dolo, mas pela pena que o Ministério Público que ver aplicada. Cipriani e Seligman pediram aos jurados que absolvam ou desclassifiquem o crime ou que reconheçam a participação de menor importância (reduzida em relação aos demais) do cliente que defendem.

Os advogados Gustavo Nagestein e Jean Severo, defensores do réu Luciano Bonilha, foram os últimos a falar. No início da defesa, Nagelstein disse que Santa Maria via o cliente como um homem inocente e injustiçado. “Se os senhores condenarem esse homem, vossas excelências vão dizer que não há problema nenhum no nosso sistema, mas ao absolvê-lo, vão estar dizendo que nós concordamos com esse sistema”, afirmou o advogado, que disse ainda que “o nosso sistema é falho”.

Nagelstein afirmou que Luciano Bonilha é um “boi de piranha” e os órgãos públicos, representados pelo prefeito, pelo promotor de justiça e pelo comandante dos bombeiros são os “lobos” da tragédia. “O que estamos vendo aqui é a maior injustiça que já vi na minha carreira”, enfatizou.

“Ninguém está ganhando um pila aqui. É por amor a essa causa, para ajudar um inocente. Alguém que está vindo pedir uma oportunidade. Vocês acham que esse guri (o Luciano) é louco? Tu achas que o Kiko e o Mauro são loucos, que iam botar fogo lá dentro?”, questionou o advogado Jean Severo, lembrando que uma suposta mentira de um funcionário da loja de fogos Kaboom levou Luciano para o banco dos réus. “Foi uma mentira desse crápula. Isso é, no máximo, um homicídio culposo, sem intenção. O Luciano tem que ser absolvido”, completou.

As 23h42min, o juiz Orlando Faccini Neto encerrou o júri, vai ser retomado nesta sexta, às 10h, com réplica do Ministério Público, que deve se estender até o meio-dia. Em seguida, a sessão vai para o intervalo, até às 13h15min, quando as defesas terão a palavra. Às 15h30min, ocorre reunião entre o juiz e os jurados na sala secreta.