“Parecia estar respirando fogo”, lembra sobrevivente sobre dificuldade para sair da Boate Kiss

Maike Adriel dos Santos, 29 anos, um dos sobreviventes da tragédia, depôs na tarde deste sábado

Maike Adriel ficou em coma induzido por uma semana | Foto: Ricardo Giusti/CP

Maike Adriel dos Santos, 29 anos, um dos sobreviventes da tragédia, depôs na tarde deste sábado no julgamento da Boate Kiss, no Foro Central de Porto Alegre. Ao responder questionamentos do juiz Orlando Faccini Neto, relembrou as dificuldades em sair do local durante o incêndio que vitimou 242 pessoas em 2013, em Santa Maria.

“Eu olhei pra cima e vi uma fumaça que confundi com gelo seco”, mas achou que estava longe do palco pra ser isso. Então ouviu um “sai, sai, sai” e “é fogo!”, contou. Ele afirmou que tentou sair do local com os amigos, mas o deslocamento no interior da boate era lento, por causa da aglomeração. Lembrou que passou sentir a fumaça e que parecia estar respirando fogo. Foi o momento que perdeu a visão por causa da fumaça. “Creio que desmaiei e alguém posteriormente me tirou. Teve um momento que apaguei”. Quando recuperou os sentidos, estava fora da Kiss.

Maike diz que, por conta do período em que ficou em coma induzido por uma semana, possui problemas de memória. Ao juiz Faccini, relatou que nenhum dos réus entrou em contato depois do incêndio. Segundo a testemunha, não houve apoio financeiro por parte dos acusados para o tratamento. “Minha mãe, doméstica, assumiu os gastos. Meu pai, que trabalha em obras, me levava nas consultas. Nenhuma ajuda mais”.

Além de problemas nos pulmões, Maike, que é desenhista, teve inúmeras queimaduras, inclusive nos dedos. “Senti, literalmente, na pele. Mas muita gente colocou a culpa em nós, que estávamos lá dentro da Kiss”, lamentou.

Indagado pelo promotor David Medina, Maike relembra o momento do incêndio. “Ardia tanto os olhos que tive que fechá-los. Só sentia uma pessoa maior que eu na minha frente. Estava prensado”. O desenhista se levantou e demonstrou a cena.

Maike diz que memorizou o trajeto de entrada, o que beneficiou a saída da boate. “Mas em algum momento, fiquei sem referência alguma. Caminhava devagar pela aglomeração. Uma sinalização facilitaria, com certeza”.

Com informações de Christian Bueller