Mais 28 pesquisadores pediram renúncia, nesta quarta-feira, de funções no processo de avaliação de cursos de pós-graduação na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes). Somadas às registradas na segunda-feira, o total de renúncias já chega a 80. Dessa vez, a área da Química pediu desligamento das atividades na instituição. Os motivos são parecidos com os apresentados pelos pesquisadores da Matemática e da Física, que já haviam pedido renúncia. As informações foram divulgadas pelo jornal O Estado de S.Paulo.
Os cientistas da Química dizem haver falta de diálogo com a presidência da Capes e pouco compromisso do órgão com a principal avaliação conduzida pela instituição: a quadrienal, que periodicamente confere a qualidade dos cursos de pós no País. O grupo também reclama que o processo para a abertura de novos cursos de pós-graduação tenha caminhado antes que a avaliação dos cursos já existentes possa ser retomada.
“Entendemos que a inexistência de uma política nacional de pós-graduação formalizada torna todo o sistema frágil, no sentido de que diagnósticos, metas e desafios estratégicos não estão disponíveis para toda a comunidade. Também não se pode mais falar em um verdadeiro diálogo”, escreveram os cientistas da Química em carta de renúncia, obtida pelo Estadão.
A Capes é uma agência de fomento à pesquisa, ligada ao Ministério da Educação (MEC), cuja missão é avaliar os cursos de pós-graduação no Brasil. Desde abril deste ano, é presidida pela reitora do Centro Universitário de Bauru, Claudia Mansani Queda de Toledo.
O pedido de renúncia desta quarta partiu de três coordenadores e 25 consultores ligados à área de Química. O Estadão apurou que houve uma conversa entre Claudia e os coordenadores nessa terça-feira.
Para conduzir as avaliações dos cursos de pós, são montadas comissões em cada uma das áreas do conhecimento. Há 49 áreas de avaliação na Capes. Em cada uma delas, são convocados, por meio de um processo público, três coordenadores com mandato de quatro anos. Cada um contrata consultores especialistas na respectiva área.
Na carta de renúncia, os pesquisadores da Química esclarecem que a atuação das coordenações de área e dos consultores é um trabalho voluntário. “Aceitamos de bom grado colaborar com a Capes, sabendo que uma avaliação indutiva e formadora é o caminho para melhora a qualidade na formação de recursos humanos para o país, na produção de conhecimento e na transferência desse conhecimento para a sociedade”, sustenta o documento.
Segundo o grupo, a pós-graduação sempre teve caráter de “política de estado e não de governo”, mas isso mudou na atual gestão. Os pesquisadores dizem que falta compromisso com a avaliação quadrienal e há inércia na tomada de ações necessárias para a retomada do processo, paralisado em razão de decisões da justiça. Outro ponto questionado é um pedido de documento para submissão de propostas de pós-graduação a distância.
“Uma boa parte das áreas, incluída a Química, tem pouca ou nenhuma experiência em EaD. A elaboração de tais documentos, em tempo tão exíguo, deveria ter sido precedida de uma ampla discussão com diferentes atores, se EaD na pós-graduação se aplica a todas as áreas e o que seria importante para fomentar sua implantação com a devida qualidade”, escrevem.