A Polícia Civil identificou uma aliança existente desde 2017 entre a facção gaúcha Os Manos com a facção paulista Primeiro Comando da Capital, o PCC, que vinha movimentando cerca de R$ 120 milhões ao ano no tráfico de drogas e de armas, além de lavagem de dinheiro. Desencadeada na manhã desta terça-feira, a operação Irmandade envolveu agentes do Rio Grande do Sul, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Bahia e Pará.
A ação teve apoio do Ministério da Justiça e da Segurança Pública, além das forças policiais em cada estado. Cerca de 330 agentes de segurança pública cumpriram 72 mandados de busca e apreensão e cinco de prisão preventiva, bem como o bloqueio e indisponibilidade de ativos financeiros, veículos e imóveis. No entanto, outras 19 prisões temporárias foram indeferidas pela Justiça.
A investigação durou dois anos. Os policiais civis apuraram que a lavagem de dinheiro ocorria com compra de ações em bolsas de valores, criptomoedas, veículos de luxo e imóveis. Apenas na região do Vale do Rio dos Sinos, o patrimônio auferido pode chegar a mais de R$ 3,5 milhões.
A organização gaúcha passou inclusive a operar em outros estados com tráfico de drogas e de armas, além de apoiar o próprio PCC.
Ao longo do trabalho investigativo, os agentes descobriram dezenas de contas bancárias, em nome de pessoas físicas e jurídicas usadas como “laranjas”. Os pagamentos pela distribuição feita no RS envolvia 45 operadores, responsáveis pela parte financeira e logística.
Os principais elos de ligação entre as duas facções são um apenado gaúcho, cumprindo pena na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) e um criminoso baiano, recolhido no sistema prisional e que garantia remessas de drogas e armas para o RS em troca de pagamentos depositados nas contas de “laranjas” no Paraná, Mato Grosso do Sul, Bahia e São Paulo.
Parte do lucro era mantido com os traficantes gaúchos. Recentemente, um outro criminoso gaúcho, natural de Canoas e residente em Florianópolis, assumiu a posição do detento da Pasc, tendo movimentado nas contas bancárias R$ 16 milhões.
Para dificultar o rastreamento, as contas das pessoas físicas e jurídicas criadas eram abertas e fechadas constantemente, em curto espaço de tempo. Doleiros também participariam do esquema. Há indícios que os ativos eram enviados para a Bolívia, Paraguai e Colômbia.