Ao menos mil casos de coronavírus são esperados no Brasil até o final de março, de acordo com o coordenador da Comissão de Controle de Infecção do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Rodrigo Pires. Em entrevista ao programa Bom Dia, na manhã desta terça-feira, ele ainda salientou que, na pior das hipóteses, o país pode chegar em cinco mil casos.
Pires salientou as medidas de isolamento como forma de conter a doença e proteger o sistema de saúde. Sobre vacina para o coronavírus, ele apontou que os estudos estão acontecendo, mas não há previsão para que se tenha o produto pronto neste ano.
Abaixo você confere os principais tópicos abordados durante a entrevista.
Existe um alarmismo em relação ao coronavírus?
As medidas que estão sendo adotadas são importantes na redução do pico de casos. Todas as ações estão lançadas e são importantes. De fato, as pessoas precisam fazer o isolamento social. Se as pessoas não mudarem o comportamento, isso pode ser inefetivo.
Por quanto tempo as medidas podem ser necessárias?
Não são medidas a curto prazo, para ser bem sucedido quem sabe quatro, oito semanas.
Quando buscar atendimento médico?
Independente da faixa etária, a pessoa vai na emergência quando tiver uma emergência. Sintomas semelhantes aos da gripe são comuns: tosse, dores no corpo, coriza, febre. A orientação é relacionada ao trato respiratório, falta de ar e muito cansaço. Só ai se recomenda procurar de fato [hospitais]. De fato, os idosos, doentes crônicos são os de maior risco e precisam de uma atenção maior aos sintomas que podem evoluir para uma pneumonia.
Se a doença é mais grave nos idosos, por que suspender as aulas?
A suspensão das aulas é parte do processo, como ele tem que estar orquestrado nas medidas sociais de não aglomeração. A suspensão é uma sinalização de mudar o comportamento de circulação de pessoas. Não é só cancelar as aulas, jovens, adultos. Precisamos promover uma mudança no comportamento.
Como se dá a transmissão?
Temos a experiência de outros países, por isso podemos adiantar ações. Então, isso promove uma vantagem e temos que aproveitar. A transmissão é a mesma da gripe comum, pela gotículas, pela saliva. A tosse, por exemplo, se deposita no ambiente e pode contaminar quem está a 1 metro, 1,5m. Por isso temos que evitar o contato próximo, o aperto de mão. Estudos apontam que a gente 23 vezes na face durante o dia, e fazemos isso involuntariamente, então é importante higienizar as mãos. Além disso, o ambiente é importante: se tiver salina, ela se deposita na superfície. É importante usar álcool gel nos teclados, celulares, para minuir a carga do vírus.
Como é feito o teste para coronavírus?
É como se fosse um cotonete que é passado no nariz e garganta. Ele detecta o DNA do vírus. Nos laboratórios centrais temos a agilidade na liberação dos resultados, cerca de 48 horas.
Temos como prever um número de infectados no Brasil daqui pra frente?
Não há uma resposta objetiva, mas existem modelos matemáticos demonstrando que se tivermos as mesmas taxas de transmissão de outros países, como Itália e Alemanha, podemos chegar ao final do mês do março com mil casos, de uma forma otimista e cinco mil de uma forma pessimista.
Qual a nossa capacidade de atendimento de internação?
Todo sistema está se organizando para que possamos atender o número mais grave de pacientes em UTI. O modo de ventilação, intubação, vai depender da necessidade de cada paciente. A disponibilização de atendimento depende do número de casos que teremos. Toda a ação de isolamento que temos também é importante para proteger o sistema de saúde. Quando menos pessoas doentes, menos vetores transmissores e menos pessoas em estado grave.
Há previsão de vacina?
Existem estudos em andamento. Mas, não devemos esperar a vacina para este ano. Todo processo envolve produção in vitro, identificação de agentes imunogênicos do vírus, testagem em pessoas, definição de doses, efeitos colaterais, até ela ser disponibilizada de forma segura. Isso tudo são fases, por isso demora tempo.
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