O surgimento de peixes mortos, na manhã desta quinta-feira, no Arroio Dilúvio, em Porto Alegre, tende a ser mais comum durante o verão. O fenômeno ocorre porque a poluição, aliada às noites mais quentes, baixa o nível de oxigênio da água, aumentando o risco de mortalidade. Técnicos da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade (Smams) estiveram na barreira ecológica, local onde os animais foram encontrados mortos, para fazer uma vistoria. Em nota, a Secretaria atribuiu o fato “à decomposição da matéria orgânica”.
O coordenador do Instituto do Meio Ambiente da Pucrs, Nelson Ferreira Fontoura, disse à reportagem do Correio do Povo que a hipótese mais provável é que os níveis de oxigênio da água tenham caído durante a madrugada devido ao calor. Isso ocorre porque as plantas o fitoplancton, responsável por produzir oxigênio durante o dia, se convertem em consumidores de oxigênio na parte da noite. “Um fenômeno bastante frequente, vai ter incidência de morte de peixes normalmente ao longo da madrugada em noites quentes”, explica Fontoura.
Um dia antes de os peixes terem aparecido mortos, o Instituto do Meio Ambiente havia feito uma medição de oxigênio em todo o Arroio Dilúvio. Na nascente, os índices eram bastante satisfatórios, de 7mg/L, porém na área da barreira ecológica o cenário era mais grave, com 4mg/L. Especialistas dizem que nível seguro de oxigênio na água é de 6mg/L. Abaixo disso, a margem é considerada crítica.
O painel de monitoramento colocado na região mostra que, entre março e outubro, foram recolhidas 617,7 mil quilos de lixo do Dilúvio. De acordo com Fontoura, uma forma de reduzir o impacto da mortandade de peixes durante o verão pode ser a construção de barragens que permitam uma melhor oxigenação da água. “Fazer essas intervenções não vai resolver o problema mas vai diminuir a frequência dos eventos de mortalidade de peixes”, considerou.
Separação do esgoto cloacal pode ajudar
Uma solução definitiva para o problema precisa, em tese, de um investimento na casa de bilhões, além de tempo. Fontoura cita duas ações fundamentais: a separação completa do esgoto cloacal do pluvial das cerca de 500 mil pessoas que vivem no entorno e uma solução para as moradias irregularidades ao redor do Dilúvio.
Atualmente estima-se que aproximadamente 70% do esgoto dos moradores da região seja separado. Para as duas ações, além do investimento massivo, também é necessária integração com outras cidades por onde o Dilúvio passa.
Questionada sobre planos de limpeza ou redução de impacto ambiental no Dilúvio, a Secretaria disse que “não integra o escopo de serviços da Smams a limpeza de arroios”. O órgão também disse que não pode afirmar se o calor pode aumentar as ocorrências de mortandade de peixes.