Anunciado hoje em Bruxelas, depois de 20 anos de negociações, o acordo comercial firmado entre Mercosul e União Europeia é comemorado pela maioria das entidades do agronegócio gaúcho, que veem uma oportunidade de ampliar exportações para o velho continente.
Embora ainda sem ter acesso à integra do acordo, dirigentes do setor dizem acreditar que a medida amplie a competitividade dos produtos agropecuários do Brasil no exterior. A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) também traçou uma análise positiva, ainda que cuidadosa.
“Em princípio, para a indústria gaúcha essa formalização é positiva”, informou a entidade, em nota. Segmentos como couro, calçados e móveis, por exemplo, devem obter maiores vantagens pelo fato de já exportarem para o mercado europeu.
Na produção rural, alguns segmentos, como os de carnes, açúcar e etanol, devem ser beneficiados por meio de cotas. Outros terão as tarifas eliminadas, incluindo o suco de laranja, frutas e café solúvel. Contudo, há segmentos que veem a medida com preocupação.
“A União Europeia é um bloco que compra muito pouco da gente e, uma vez tendo esse acordo, o volume de negócios que podem surgir é muito grande”, considera o economista-chefe do Sistema Farsul, Antonio da Luz. Entre as cadeias produtivas que podem ser beneficiadas, ele cita bovinocultura de corte, arroz, frutas, açúcar e etanol.
Por outro lado, da Luz salienta que não há acordo comercial de via única. Porém. a expectativa é de que o agronegócio brasileiro seja beneficiado a partir da importação de insumos. A nota divulgada pelo governo federal fala em “acesso a insumos de elevado teor tecnológico e com preços mais baixos” aos produtores do país.
A expectativa é grande entre as entidades representativas do setor de carnes. No caso da carne de frango, a cota chega a 180 mil toneladas no ciclo de 12 meses, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). O presidente da entidade, Francisco Turra, que chegou a estar cético com a possibilidade de fechar o acordo, comemorou. O executivo cita a possibilidade de ampliar os embarques não apenas da carne de frango, que já é tradicionalmente exportada para os europeus, mas também da carne suína.
Apreensão entre vinicultores
O entusiasmo, porém, não é compartilhado em todo o agronegócio. O diretor de relações institucionais do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Carlos Paviani, fala que o acordo vai aumentar a importação do vinho europeu, que conta com subsídios dos governos e carga tributária inferior em relação ao produto brasileiro.
Por isso, o segmento cobra medidas de compensação, que incluem linhas de crédito e redução de taxas de juros.
No caso dos lácteos, o acordo prevê cotas para a entrada de produtos do bloco europeu, com isenção de tarifas de importação. Hoje, incidem impostos de 28%.