Em entrevista gravada na quarta passada e exibida, nessa quinta-feira, pela emissora sindical TVT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar a condução do processo criminal, relativo à propriedade de um triplex no Guarujá (SP), pelo qual recebeu a primeira condenação penal do então juiz federal Sergio Moro, hoje ministro da Justiça e Segurança Pública.
“Ele (Moro) estava condenado a me condenar porque a mentira havia ido muito longe”, disse. Preso desde 7 de abril do ano passado, Lula chamou Moro e Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, no Ministério Público Federal do Paraná, de “mentirosos”, e defendeu, inclusive, a prisão do procurador.
O ex-presidente, contudo, disse estar sereno. “A máscara vai cair. O que vai acontecer, eu não sei”, e completou: “Eu estou mais tranquilo hoje, porque a minha tranquilidade é daquele que sabe que é honesto. Que sabe que Deus sabe que eu sou honesto. O Moro sabe que eu sou honesto.”
Instituições como a Polícia Federal, prosseguiu, “não podem ser manipuladas por moleques irresponsáveis”. O ex-presidente também atribuiu a eles a culpa pela desestabilização das estatais, acusando a PF e o Ministério Público de estarem “a serviço de interesses americanos”, e não do combate à corrupção.
“Provem que Lula é culpado que eu fico quieto. Me desmoralizem, deixem minha neta envergonhada”, desafiou o político. “Eu fico indignado! Isso é irresponsável. O Moro não olha nos olhos quando fala na TV. Ele e o Dallagnol. Eles não têm coragem”, acrescentou.
Lula frisou, ainda, que ele e o PT sempre foram favoráveis a que se combata a corrupção. “O PT criou mecanismos de proteção da coisa pública. Se alguém cometeu erro, tem que pagar”, reforçou. “Querem me punir, ótimo. Mas todos têm que ser julgados com respeito à Constituição e com provas. Não posso prender o vizinho por não gostar dele. E daí estou há mais de um ano aqui, apenas querendo que leiam o processo.”
É a primeira vez que o ex-presidente se manifesta depois da divulgação das supostas conversas entre o procurador Deltan Dallagnol e o ministro Sergio Moro.
Questionado sobre o governo atual, ele disse que o País “pariu essa coisa chamada [Jair] Bolsonaro”. Segundo o petista, isso resultou de uma série de fatos políticos que começaram com o movimento “Volta, Lula”, passando pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a chegada do então vice-presidente Michel Temer à Presidência.
O ex-presidente afirmou que, quando começou o movimento “Volta, Lula”, foi “obrigado” a fazer um discurso, em um evento no Anhembi, em São Paulo, falando que não era candidato, mas sim Dilma, “por direito”. Lula disse que, a partir do “Volta, Lula” e do anúncio de que não pretendia disputar o pleito, empresários começaram a se afastar do governo.
Lula disse, então, que na segunda campanha de Dilma, o hoje deputado Aécio Neves (PSDB-MG), então candidato a presidente, “fez a bobagem que fez” de não reconhecer a vitória do PT e pedir recontagem de votos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Depois, relembrou, vieram o impeachment, a chegada de Temer ao poder e a eleição de Bolsonaro.
Defesa anexa troca de mensagens a pedido de habeas corpus
Também hoje, a defesa de Lula incluiu, em um pedido de habeas corpus apresentado ao Supremo Tribunal Federal, a transcrição de mensagens supostamente trocadas entre o então juiz Sergio Moro e integrantes da força-tarefa da Lava Jato. As mensagens foram publicadas no domingo passado pelo site The Intercept Brasil. Para os advogados, os diálogos mostraram “completo rompimento da imparcialidade objetiva e subjetiva”.
O pedido de habeas corpus acusa Moro de ter agido com parcialidade ao condenar Lula no caso do triplex e, depois, assumir cargo no primeiro escalão do governo de Jair Bolsonaro.
O recurso deve ser julgado em 25 de junho pela Segunda Turma do Supremo. Lula cumpre pena de 8 anos, 10 meses e 20 dias de prisão – pena imposta em terceira instância pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
“Justiça vingativa”
Pela manhã, Moro afirmou que a atuação dele no combate à criminalidade e à corrupção não é “uma espécie de justiça vingativa”, mas uma forma de proteger as pessoas. O ministro participou do lançamento do pacto nacional pela implementação do sistema de garantias de direitos da Criança e do Adolescente vítima de violência.
“Quando eu fui convidado pelo Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública, houve uma convergência absoluta no que se refere às minhas intenções e às dele, de que o objetivo seria sermos firmes contra o crime organizado, corrupção e a criminalidade violenta. Para deixar tudo muito claro, tanto a minha visão quanto a do presidente, não é fazer isso por uma espécie de justiça vingativa, embora fazer justiça seja importante. Não evidentemente vingança”, disse.
*Com informações da Agência Estado
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