O mês de maio começou sob a expectativa de distensionamento da guerra tarifária entre EUA e China, com o país asiático confirmando que Washington o procurou para conversas. Pequim aceita iniciar as negociações desde que o governo de Donald Trump retire as tarifas implementadas este ano. Sob este pano de fundo global, a semana econômica terá enfoque sobre a decisão das taxas de juros nos EUA e no Brasil, ambas na quarta-feira, 7.
Cada Banco Central sob desafios diferentes: enquanto o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) está sob a incerteza das tarifas sobre o crescimento e a inflação na maior economia do mundo, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil enfrenta o desafio da desancoragem das expectativas de inflação, índice vigente bem acima da meta, mercado de trabalho aquecido em meio a medidas fiscais expansionistas do governo brasileiro diminuir os efeitos do choque de juros do Copom iniciado em setembro do ano passado.
Falas de diretores do Copom deram, nas duas últimas semanas, a perspectiva de fim do ciclo de alta da Selic na reunião de maio com falas sobre a “incipiente moderação” do crescimento econômico. Porém, o presidente da autoridade monetária, Gabriel Galípolo, reforçou o tom duro de que a expectativa de inflação no horizonte relevante (3º trimestre de 2026) ainda está longe do centro da meta.
“O Copom vai cumprir a sinalização do último comunicado e subir novamente a taxa Selic. Resta saber se meio ponto percentual ou 75 pontos-base, para 14,75% ou 15%. Além disso, o mercado espera se o Copom vai comunicar ao menos mais uma alta da Selic, para a reunião de junho, ou se pode indicar que o aumento de quarta será a última desse ciclo”, comenta Leandro Manzoni, analista de Economia da plataforma Investing.com.
Nos EUA, segundo Manzoni, a manutenção da taxa dos Fed Funds no intervalo entre 4,25-4,5% é consenso entre os investidores. “A lupa estará na parte do comunicado referente à diminuição do balanço da autoridade monetária, que na prática significa a retirada de dinheiro do mercado e restrição financeira semelhante a uma alta de juros”, diz Manzoni.
A entrevista coletiva de Jerome Powell, presidente do Fed, durante a quarta-feira, 7, será acompanhada pelo mercado em busca de pistas de quando vai retomar o ciclo de corte de juros. A abordagem cautelosa à condução da política monetária sob os efeitos das tarifas na economia dos EUA para não se precipitar tanto para um corte como para uma alta de juros está vencendo a ansiedade dos investidores para um corte rápido dos juros.
Após os dados do mercado de trabalho da última sexta-feira, 2, quando apresentou robustez, os investidores já projetam corte de juros de junho para julho. O jogo do Fed é não deixar a alta temporária de preços das tarifas contaminar a expectativa de inflação de longo prazo nos EUA. A resposta só deve vir após julho, o que deixa o mercado ainda sob uma posição precipitada de quando o Fed deve agir.
Os investidores podem ganhar essa batalha se houver uma deterioração rápida do mercado de trabalho, sendo que os dados do mês de abril, o primeiro mês sob os efeitos das tarifas, ficaram bem longe de uma piora.
ROTINA SEMANAL
A semana começa com a finalização da divulgação dos índices do gerente de compras (PMIs) de Serviços e Compostos de Brasil, EUA, Japão, China, Reino Unido, Zona do Euro, Alemanha e França, um importante índice antecedente sobre a atividade econômica futura. Além disso, saem os dados do Relatório Focus do Banco Central, assim como indicadores da Fundação Getúlio Vargas, o IPC-S da quarta semana de abril e o das Capitais pesquisadas.
Na terça-feira, 6, os EUA divulgam a balança comercial de março, com olhos atentos para a importação, que derrubou a atividade econômica do país, segundo a primeira prévia do Produto Interno Bruto (PIB) divulgado na última semana. Na quarta-feira, 7, além da política monetária, o Brasil vai conhecer os dados da produção industrial de março pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a balança comercial de abril com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), assim como o Índice de Variação de Aluguéis Residenciais (IVAR), da FGV.
No dia seguinte, quinta-feira, 8, sai o IPC-S da primeira semana de maio e o IGP-DI, ambos da FGV. Já a sexta-feira, 9, será movimentada e com dados do comércio exterior e da inflação de abril da China, o IPCA no Brasil pelo IBGE, e discursos de membros do Fed após a decisão de juros da quarta.
Paralelamente, a temporada de balanços acelera no Brasil. Nomes importantes como Itaú, Bradesco, Ambev, CSN, Minerva e Embraer vão apresentar os seus resultados financeiros do primeiro trimestre de 2025. Nos EUA, os destaques são Walt Disney, Uber, Mercado Livre e Banco Inter.