
O secretário de Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter, considera que o sistema de saúde da Capital está um caos devido à superlotação dos leitos hospitalares e de atendimento de urgência causado, segundo ele, pelo pouco investimento do Estado na cidade e pela grande quantidade de pacientes vindos de outros municípios. Desde o último final de semana, as emergências de hospitais de Porto Alegre e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) registram superlotação nos atendimentos de pacientes adultos.
Ritter participará nesta quarta-feira, junto com prefeito Sebastião Melo e outros integrantes do governo municipal, de uma reunião com a secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, para buscar solução para o alto número de pacientes de outros municípios que buscam a Capital para atendimento médico.
“O caos já está instalado. Estamos no início de março e com 200% de ocupação das nossas emergências. Isso nunca aconteceu. Só não enxerga quem não quer ver. Quem não quer assumir a responsabilidade do cargo que ocupa. Então, precisamos entender que não é uma UPA Moacyr Scliar ter 335% de ocupação”, lamentou Ritter. “Temos 20 hospitais contratualizados pelo Sistema Único de Saúde e não temos mais condições de manter recursos municipais para custear pessoas de fora de Porto Alegre. Não posso deixar a população de Porto Alegre desassistida em detrimento de outras. Vamos continuar recebendo quem vier em Porto Alegre até o limite do que o recurso permitir. Fora isso eu não tenho mais como fazer”.
O secretário ressalta que não há mais a possibilidade de abrir novos leitos em Porto Alegre. Para Ritter, é necessário que o Estado invista os 12% da receita líquida na saúde como determina a constituição nos hospitais gaúchos.
“Precisamos urgentemente que o Estado seja sensível e faça aquilo que nunca fez, que é tirar os pacientes de Porto Alegre que não precisam mais estar aqui e levar para os hospitais em outras cidades, que, mesmo que seja longe, permita eu atender quem precisa. Pessoas morrerão se a gente não tirar pacientes de baixa complexidade ou média complexidade, que não precisam mais estar aqui, pois se isso não mudar não conseguiremos atender um paciente politraumatizado, um paciente grave, um paciente infartado, com parada cardiorrespiratória, que precisa fazer um procedimento cirúrgico cardíaco importante, pois não teremos os outros hospitais”, ressaltou.
Ele ainda lamenta a diminuição de recursos gerado por um programa do governo estadual. “O Programa Assistir infelizmente retirou recursos de hospitais importantes, como os hospitais da Restinga e Pronto-Socorro de Porto Alegre. Isso causa um impacto importante na saúde. Não conseguimos dar conta. O fechamento, por exemplo, do Hospital de Pronto-Socorro de Canoas, mesmo com todo esforço de tentar colocá-lo junto dois hospitais, teve uma perda importante. E as pessoas têm a Capital de todos os gaúchos como um porto seguro. Então elas vão vir aqui fazer assistência”, destacou.
Na segunda-feira, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou em nota que “mais de 40% dos atendimentos da UPA Moacyr Scliar são da Grande Porto Alegre e outros mais de 15% nos demais prontos-atendimentos (Cruzeiro do Sul, Bom Jesus e Lomba do Pinheiro)”. O Painel das Emergências apontava no início da tarde desta quarta-feira que as emergências adultas de hospitais superavam os 170% de ocupação, sendo o Hospital de Clínicas com 466,67%. Já as unidades de Pronto-Atendimento ultrapassavam os 205%, com a UPA Moacyr Slicar chegando a 411% de ocupação.
As emergências psiquiátricas tinham 148% de leitos ocupados e o Hospital de Pronto-Socorro 180%. “Precisamos que todos os hospitais do Rio Grande do Sul mostrando as suas taxas de ocupação em suas emergências. Por que só Porto Alegre é transparente? Até hoje não entendo. Estamos lançando daqui alguns dias, um novo painel para mostrar a taxa de ocupação dos leitos. Quero ver todos os hospitais do Estado fazerem isso”, declarou.
A reunião está marcada para ser realizada na sede da Secretaria Estadual de Saúde (SES) no final da tarde desta quarta-feira. O Correio do Povo entrou em contato com a assessoria de imprensa da SES para buscar um posicionamento sobre o caso, mas ainda não obteve resposta.